Nada como um dia depois do outro.
Principalmente para um moralista de plantão.
Como é representar uma empresa suspeita de corrupção, que
supostamente paga propina para se livrar de débitos tributários? Qual é a
sensação de saber que parte do salário que vocês recebem no final do
mês é pago, supostamente, graças à corrupção – essa mesma que,
insistentemente, tem assolado nossa política -? Como é saber que a
expansão empresarial do Grupo RBS supostamente é patrocinada pela
corrupção, pela sonegação de tributos que fazem falta para a educação,
para a saúde, para as estradas? Como será, a partir de agora, produzir
uma matéria, ou escrever um artigo, sobre o “caos na saúde”, se
supostamente vocês contribuíram para ele?
A empresa que vocês representam ainda não foi condenada? Bem, mas o
que isso importa? Quando vocês, jornalistas do Grupo RBS, se preocuparam
com a verdade e com apurações quando escândalos desse tipo envolveram
políticos, não é mesmo?
Como é ser vidraça?
E agora, sob a luz dessa acusação, como será falar, em seus programas
de rádio, em suas colunas de jornal impresso, sobre propinas pagas por
empresários para políticos e diretores da Petrobras? Como será descer do
“pedestal ético” do Grupo RBS, do qual se olhou para todos,
indistintamente, durante um bom tempo? Do alto do qual políticos, juízes, promotores, funcionários públicos, agentes políticos, profissionais liberais e cidadãos comuns foram julgados impiedosamente?
indistintamente, durante um bom tempo? Do alto do qual políticos, juízes, promotores, funcionários públicos, agentes políticos, profissionais liberais e cidadãos comuns foram julgados impiedosamente?
Com que moral um representante do Grupo RBS falará sobre isso?
Aliás, com que moral um representante do Grupo falará, a partir dessa
denúncia, sobre qualquer coisa que envolva o conceito de corrupção?
Vocês citarão os nomes dos executivos da RBS que supostamente pagaram
propinas para funcionários públicos corruptos? E os nomes dos lobistas
que supostamente intermediaram essa negociação, vocês dirão? Estão
ansiosos por essa lista como estiveram pela famosa “lista de Janot”?
E os editoriais do Grupo RBS, pródigos em acusações, em apontar para a
falência moral da política? Como é estar na mesma vala de suspeição, no
mesmo nível moral dos políticos e empresários por vocês publicamete
execrados?
Por um bom tempo vocês enganaram muitas pessoas. Há aqueles, porém,
que jamais engoliram a incompetência, o falseamento da verdade, a
ignorância, a má-fé e o exercício diário de crenças irrefletidas
praticados por vocês, sabujos do Grupo RBS. Hoje é um dia de alma
lavada. Hoje o que resta da dignidade do jornalismo está em festa, pois a
face que não presta do jornalismo brasileiro começou a ser
desmascarada. Hoje as pessoas que vocês enganaram por um bom tempo
também sabem que vocês escrevem a soldo de gente supostamente tão
desqualificada moralmente quanto o que há de mais rasteiro na política
brasileira. É nessa lama que vocês, colaboradores, parecem indiretamente
chafurdar diariamente, sem qualquer espécie de distinção ética, pois
pelo menos parte do salário de vocês parece ser pago com o mesmo tipo de
dinheiro sujo que movimentou o famoso “Mensalão” e outros tantos
escândalos semelhantes. Dinheiro sonegado é dinheiro sujo, além de fazer
falta para quem mais precisa do Estado.
Como será saber que seu empregador, caso as denúncias sejam
verdadeiras e a culpa do Grupo RBS reste provada, é corresponsável pela
pobreza, pela miséria, pela histórica falta de Estado para os mais
necessitados? Com que moral vocês irão criticar programas públicos de
assistência social, uma vez que há tal assistência também porque há
corruptos?
Não há nenhuma diferença moral entre a corrupção supostamente
praticada pelos seus patrões e a patrocinada por “mensaleiros” e
operadores do esquema da Petrobras, o dito “petrolão”.
Aliás, como será batizada a propina supostamente paga pelos
executivos do Grupo RBS a fim de livrar a empresa de débitos
tributários?
Caso vocês ainda não tenham se dado conta, estamos falando de,
supostamente, 19 bilhões de reais. De advocacia administrativa, tráfico
de influência, corrupção ativa e passiva, associação criminosa e lavagem
de dinheiro. E, supostamente, nesse mesmo barco estão “queridinhos” do
Grupo RBS, como o Grupo Gerdau – e não poucas vezes um
conhecido integrante do referido Grupo nos deu lições baratas sobre
ética nas páginas de opinião de veículos do Grupo RBS. E tudo isso,
frise-se, dito pela Receita Federal, Polícia Federal, Ministério Público
Federal e a Corregedoria do Ministério da Fazenda.
Que razões temos, portanto, para acreditar que tais denúncias são
mais “fracas” do que aquelas que culminaram na condenação dos ditos
“mensaleiros”?
E agora, como vocês irão dormir sabendo que todo o discurso moral –
discurso assumido por cada um de vocês, diga-se de passagem – do Grupo
que vocês representam pode nunca ter valido um tostão furado?
Vocês pedirão demissão? Pedirão desculpas públicas por representarem
possíveis corruptos – e venderem seus discursos – por tanto tempo? Não é
essa a atitude que vocês, colaboradores e porta-vozes da moralidade do
Grupo RBS, costumam exigir de políticos?
Tenham o mínimo de dignidade. A mesma que vocês não pensam duas vezes em exigir quando se trata de desqualificar a política.
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