Texto de Ricardo Kotscho em seu blog
Nenhum dos nossos jornalões deu esta notícia em manchete, mas
merecia. O caso é de 1998, quando o governador era Mário Covas, do PSDB.
Só agora, a Justiça resolveu agir para recuperar os prejuízos
milionários causados aos cofres públicos de São Paulo pelo cartel
formado por empresas multinacionais e agentes públicos, popularmente
conhecido como "Trensalão".
Nesta segunda-feira, finalmente, a juíza Maria Gabriella Pavlópoulos
Spaolonzi, da 13ª Vara da Fazenda Pública da Capital, decretou o
bloqueio de bens, no valor de R$ 282 milhões, de Robson Marinho,
ex-chefe de gabinete de Covas e atual conselheiro afastado do Tribunal
de Contas do Estado de São Paulo, e da multinacional francesa Alstom,
entre outros.
Apesar de ser em tudo semelhante ao "modus operandi" do esquema do
"Petrolão" petista, que começou a ser investigado no ano passado, e já
levou muita gente para a cadeia, o "Trensalão" tucano não mereceu a
mesma atenção e presteza da Justiça e da mídia, mostrando o caráter
seletivo dado aos casos de corrupção que assolam nosso país, faz muito
tempo.
Na Folha, o decreto da juíza não mereceu nem chamada de capa e
apareceu escondidinha num canto da página A10, quase pedindo desculpas,
sob o título "Justiça bloqueia bens de Robson Marinho, do TCE". Quem não
conhece o passado de Marinho nem o que quer dizer TCE, nem nunca ouviu
falar em "Trensalão", passa batido.
No concorrente Estadão, a notícia mereceu chamada e mais destaque
numa página interna, dando maiores detalhes da história, mas sem em
nenhum momento falar em escândalo, nem citar a palavra pela qual o caso
ficou conhecido.
Só relembrando: fundador do PSDB e homem de confiança de Mário Covas,
Marinho foi seu chefe da Casa Civil entre 1995 e 1997, sendo indicado
para o Tribunal de Contas em 1998, quando esta história começou, 17 anos
atrás. Segundo o Estadão, "o conselheiro está sob suspeita de ter
recebido na Suíça US$ 2,7 milhões em propinas da Alstom, entre os anos
1998 e 2005 (US$ 3,059 milhões em valores atualizados)".
Os promotores de Justiça Silvio Antonio Marques, José Carlos Blat e
Marcelo Daneluzzi acusam Robson Marinho de enriquecimento ilícito,
lavagem de dinheiro e de ter participado de um "esquema de ladroagem do
dinheiro público". Na ação de improbidade, eles pediram o bloqueio total
de R$ 1,129 bilhão, valor referente aos danos causados pelos acusados
ao erário e à multa processual. Todos os réus juntos devem, por
responsabilidade solidária, pagar este valor.
"Há provas robustas sobre o esquema de corrupção que envolveu o
conselheiro do Tribunal de Contas e grandes empresas", justificou o
promotor Blat. Em sua defesa, Marinho negou tudo: "Nunca recebi um
tostão da Alstom, nem na Suíça, nem no Brasil".
Como cabe recurso contra a liminar, não se sabe quando esta história
vai chegar ao fim. Ninguém ainda foi preso, mas agora, pelo menos, e já
não era sem tempo, o "Trensalão" tucano está saindo da clandestinidade,
antes que tudo prescreva e seja esquecido.
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