247 - O rabo
preso da revista Veja, da Editora Abril, com o governo de São Paulo,
ficou evidente algumas semanas atrás, quando a publicação deu sua versão
sobre o caso Siemens, como se o escândalo não tivesse qualquer relação
com o PSDB paulista (para saber mais, leia "Tucaníssima, Veja rasga a fantasia no caso Siemens").
Mais do que uma ligação ideológica, ela é também financeira. Entra
governo, sai governo, são renovadas, em condições especiais, assinaturas
de revistas da Abril para professores e estudantes de escolas públicas
paulistas. Além disso, o secretário de comunicação de São Paulo, o
jornalista Marcio Aith, é ex-editor de Veja e pilota uma gigantesca
máquina de publicidade, onde as revistas da Abril têm lugar especial.
Em 2012, com a derrota de José Serra
para Fernando Haddad, a Abril perdeu um de seus pilares em São Paulo.
Por isso, a hipótese de sofrer nova derrota em 2014, desta vez para
Alexandre Padilha, contra Geraldo Alckmin, teria impacto devastador na
editora dos Civita, na Marginal Pinheiros. Diante do risco, Veja deixa
claro, nesta semana, que será o principal adversário de Padilha – talvez
o maior – em sua luta para tentar se eleger governador de São Paulo, em
2014.
O arsenal deste fim de semana veio
ancorado num tripé: editorial de Eurípedes Alcântara, uma vasta
reportagem interna e uma chamada de capa. Nos três casos, são ofensas à
inteligência do leitor, mas, na Abril, há a percepção de que esses
ataques rasteiros funcionam – contra Haddad não deu certo e, em relação a
Padilha, só o tempo dirá.
A chamada de capa é a seguinte:
"Cubanização - Deixar os médicos sob a lei ditatorial de Havana é uma
grave ameaça à soberania brasileira". O editorial de Eurípedes
Alcântara, por sua vez, trata os médicos cubanos como servos. "Os
petistas optaram por impor a eles a desonra de 'uma vez escravo, sempre
escravo'", diz o texto do jornalista que comanda a publicação.
Internamente, a reportagem assinada por Leonardo Coutinho e Duda
Teixeira traz uma foto de Padilha e o título "O que ele admira é
ditadura", afirmando ainda que o ministro da Saúde estaria a serviço de
Havana.
Nem vale a pena perder tempo com os
argumentos de Veja. Nem na Abril eles são levados a sério. Basta lembrar
que, quando médicos cubanos foram trazidos no governo FHC, eles foram
apontados como uma grande solução, quase um milagre (leia mais aqui).
O que a Abril não admite perder é seu assento especial no Palácio dos Bandeirantes.
Mas será que o leitor é incapaz de perceber a operação que está por trás disso?
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