Bernardo Mello Franco - Folha de S.Paulo
Sentindo-se abandonado pelo grupo que ajudou a alçar ao poder, Eduardo Cunha caiu atirando. Na primeira entrevista após a cassação,
ele ameaçou abrir fogo contra o governo de Michel Temer e atacou o
deputado Rodrigo Maia, que o substituiu no comando da Câmara.
O
correntista suíço começou a dar recados na madrugada desta terça (13),
antes mesmo de deixar o Congresso. Assim que saiu do plenário, ele
reuniu jornalistas e avisou que pretende lançar um livro com revelações
sobre a engenharia da derrubada do governo Dilma Rousseff.
"Vou
contar tudo o que aconteceu no impeachment, com todos os personagens
que participaram de diálogos comigo. Esses serão tornados públicos em
toda a sua integralidade. Todos, todos, todos. Todo mundo que conversou
comigo", prometeu o agora ex-deputado. Questionado se havia gravado as
conversas, ele respondeu com um sorriso irônico: "Tenho boa memória".
Magoado,
o peemedebista culpou o Planalto por sua desgraça. Seu primeiro alvo
foi o ex-ministro Moreira Franco, a quem batizou de "eminência parda"
por trás de Temer.
Poucas
horas depois, ele voltou a mira contra o presidente do Senado, Renan
Calheiros. "Espero que os ventos que nele chegam através de mais de uma
dezena de delatores e inquéritos no STF, incluindo [o delator] Sérgio
Machado, não se transformem em tempestade", provocou.
As
ameaças do ex-presidente da Câmara viraram o principal assunto em
Brasília depois da sua cassação. Ninguém sabe ao certo o que ele está
disposto a contar e, principalmente, se o governo Temer seria capaz de
resistir a uma possível delação.
Desde
os tempos da Telerj, no governo Collor, Cunha cultiva a reputação de
fabricar dossiês contra adversários. A diferença é que ele não pode mais
usá-los para acumular poder ou ampliar os negócios. Agora as
informações do subterrâneo da política se tornaram a sua última arma
para tentar escapar da cadeia.
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