"A votação que cassou seu mandato foi um massacre: 450 a 10"
Bernardo Mello Franco - Folha de S.Paulo
Na noite em que iam cassá-lo,
Eduardo Cunha entrou no plenário da Câmara com uma estratégia clara.
Ele subiria à tribuna para atacar o PT e se apresentar como vítima de
uma retaliação política. O processo por quebra de decoro seria uma mera
vingança por seu papel central na derrubada de Dilma Rousseff.
"Estão
me cobrando o preço de ter conduzido o processo de impeachment",
discursou o correntista suíço. "É o preço que eu estou pagando para o
Brasil ficar livre do PT".
De
gravata amarela, cor das manifestações contra Dilma, Cunha foi imodesto
ao lembrar seu peso no afastamento da presidente. "Alguém tem dúvida de
que se não fosse a minha atuação, [não] teria havido impeachment?",
questionou. Ninguém tinha, mas ele continuou a falar sozinho: "O que
quer o PT? Um troféu para dizer que é golpe".
Como
nenhum deputado da antiga oposição saísse em sua defesa, o peemedebista
ensaiou uma guinada no discurso. A agressividade deu lugar a um tom
suplicante, quase choroso. "Atacar, tudo bem. Agora, poderiam ter o
mínimo de respeito pela minha família", disse, embargando a voz.
Alguém
gritou "Chora!", e o plenário explodiu numa risada coletiva.
Sentindo-se ridicularizado, o deputado passou a apelar ao corporativismo
dos colegas. "Eu não votei para cassar ninguém no mensalão", disse.
Após novo fracasso, ele se despediu com uma demagogia religiosa: "Que
Deus possa iluminar vocês".
A
sessão desta segunda (12) foi a crônica da cassação anunciada. Após
cumprir sua tarefa, o ex-presidente da Câmara foi abandonado por
partidos como PSDB e DEM, que o apoiaram até a confirmação do
impeachment. O ex-vice Michel Temer, seu velho aliado, também lavou as
mãos.
Depois
de cultivar a fama e o apelido de "malvado", Cunha sentiu na pele a
maldade da política. Na noite derradeira, só dois deputados do baixo
clero se aventuraram a defendê-lo. A votação que cassou seu mandato foi
um massacre: 450 a 10.
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