Bernardo Mello Franco - Folha de S.Paulo
Ao
tomar posse como presidente interino, Michel Temer anunciou um governo
de "salvação nacional". Sete meses depois, sua administração parece
reduzida a um "salve-se quem puder". O peemedebista chega ao fim do ano
com a popularidade na lona e o pescoço ameaçado pelas delações da
Odebrecht.
No
fim de semana, Temer recebeu a sugestão de demitir todos os auxiliares
citados pelo lobista Cláudio Melo Filho. A ideia esbarrou num problema: a
cabeça seguinte seria a do próprio presidente,
acusado de pedir R$ 10 milhões à empreiteira. Segundo o delator, parte
do dinheiro foi entregue em espécie no escritório do primeiro-amigo José
Yunes.
Quando
a história veio à tona, Temer disse, em nota, que "repudia com
veemência as falsas acusações". Como a negativa não foi suficiente para
estancar a crise, ele decidiu trocar a defesa pelo ataque. Passou a
reclamar da divulgação de informações, um expediente muito usado pelo
governo deposto em maio.
Em
carta aberta ao procurador-geral da República, o presidente alegou que
as iniciativas do governo "vêm sofrendo interferência pela ilegítima
divulgação de supostas colaborações premiadas". Isso equivale a repetir o
discurso petista de que o noticiário da Lava Jato atrapalha o país.
Em
tom professoral, Temer disse que "o fracionado ou porventura lento
desenrolar de referidos procedimentos pré-processuais, a supostamente
envolver múltiplos agentes políticos, funciona como elemento perturbador
de uma série de áreas de interesse da União". Na verdade, as delações
perturbam os políticos delatados, que o governo de "salvação nacional"
tenta proteger.
A
carta termina com uma contradição. O presidente defende "celeridade na
conclusão das investigações", mas pede que nada seja revelado enquanto
não for "completado e homologado o procedimento da delação", o que não
acontecerá tão cedo. Nos sonhos do Planalto, tudo ficaria na gaveta até o
fim de 2018.
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