Bernardo Mello Franco - Folha de S.Paulo
Após nove meses de processo, o Senado condenou Dilma Rousseff ao impeachment.
A primeira mulher a governar o país virou um retrato na galeria de
ex-presidentes. Sua cadeira foi ocupada por Michel Temer, o vice que
articulou uma aliança parlamentar para derrubá-la.
Pela
terceira vez, o PMDB chega ao Planalto sem passar pelas urnas. O novo
presidente deve o cargo aos 61 senadores e 367 deputados que o alçaram
ao poder. Sem a força do voto popular, terá que saciar os apetites do
Congresso para enfrentar a recessão e cumprir a promessa de "recolocar o
Brasil nos trilhos".
A
agenda econômica será o principal desafio do dia seguinte ao
impeachment. Temer perdeu a desculpa da interinidade, sacada para
justificar cada concessão à gastança. Se não aprovar reformas em tempo
hábil, ele corre o risco de ser abandonado pelos mesmos atores que
patrocinaram sua ascensão ao governo.
A
superação da crise é a única saída para o novo presidente se tornar
menos impopular que a antecessora. A boa vontade do mercado não
resolverá tudo. O Planalto terá que obter apoio da sociedade a seu
plano, que prevê cortes de direitos trabalhistas e redução do gasto
social.
A
aposta em "medidas impopulares" pode reagrupar a esquerda, que buscava
uma bandeira para ressurgir das cinzas deixadas por Dilma. Ela sugeriu
um mote no discurso de despedida, ao prometer uma oposição "firme,
incansável e enérgica" ao "governo golpista".
Entre
muitas incertezas pela frente, está o futuro da Lava Jato. Num diálogo
famoso, dois barões do PMDB defenderam a queda da presidente como um
atalho para frear a operação, que ameaça implodir os maiores partidos
brasileiros. "Tem que mudar o governo para estancar essa sangria", disse
Romero Jucá.
Dos
13 senadores investigados, 10 votaram pelo impeachment. Os próximos
meses mostrarão se eles se iludiram ou se estamos diante de um "grande
acordo nacional".
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