Depois
de vencer a batalha pelo poder, Michel Temer decidiu declarar guerra a
uma palavra. No primeiro ato após a confirmação do impeachment, ele
reuniu a tropa e determinou que os ministros reajam a cada vez que seu governo for chamado de "golpista".
"Agora
nós não vamos levar ofensas para casa", anunciou, em discurso
transmitido pela emissora oficial do Planalto. Ele disse que "as coisas
se definiram" e que "é preciso muita firmeza" para defender a reputação
do novo regime.
Com
o cenho franzido, Temer descreveu uma situação com a qual a sua equipe
passou a conviver. "De vez em quando você vai num lugar e [ouve]:
'Golpista!'. Golpista é você que está contra a Constituição, né?",
perguntou, sem esperar resposta.
"Todos
que estão aqui são elegantes. Mas é preciso firmeza, digo eu. E firmeza
para quando disserem golpista", ordenou o presidente. "Nós precisamos
responder. Agora, falou, nós respondemos. Não pode deixar uma palavra,
porque senão eles tentarão desvalorizar", prosseguiu. Ele encerrou a
preleção com um aviso: "Não pode tolerar essa espécie de afirmação. Quem
tolerar, eu confesso que vou trocar uma ideia sobre isso".
Temer
citou as expressões "golpe" e "golpista" oito vezes, embora tenha
manifestado o desejo de retirá-las de circulação. No mesmo discurso,
reclamou da imagem do novo governo no "plano internacional". "Tentaram
muito e conseguiram, até com algum sucesso, dizer que aqui no Brasil
houve um golpe", disse.
Apesar
da queixa do presidente, parte da imprensa estrangeira continua a usar
os termos que o incomodam. Nesta quinta (1º), o jornal espanhol "El
País" descreveu a derrubada de Dilma Rousseff como um "golpe baixo" na
democracia brasileira.
A
guerra de Temer com as palavras pode ser mais longa que a disputa por
votos no Congresso. A não ser, é claro, que ele aproveite a reunião do G20para importar métodos chineses de convencimento.
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