sábado, 9 de maio de 2015

Moro passa recibo de que não tem nada contra Vaccari

Por Miguel do Rosário, no Cafezinho
Olha só que coisa absolutamente ridícula.
Reproduzo abaixo matéria da Folha sobre o novo arbítrio de Sergio Moro, o carrasco da Lava Jato.

DE BRASÍLIA

08/05/2015 16h25
O juiz Sergio Moro, responsável por processo da Operação Lava Jato na Justiça Federal no Paraná, estabeleceu prazo de cinco dias para o ex-tesoureiro do PT João Vaccari Neto explicar os depósitos de R$ 583.400 feitos na conta de sua mulher.
O montante foi transferido em diferentes operações, em dinheiro, entre os anos de 2008 e 2014 para a conta em nome de Giselda Rouse Lima. Segundo Moro, o dinheiro, “aparentemente”, não tem origem comprovada.
O magistrado se pronunciou após o ex-tesoureiro pleitear a revogação de sua prisão preventiva. Vaccari está detido desde o dia 15 do mês passado.
Como a Folha revelou em março, a força-tarefa da Lava Jato apura se duas operações de recebimento e envio de R$ 400 mil em 2008 e 2009, usando a conta de Giselda, tiveram relação com o suposto pagamento de propina por parte da Toshiba no esquema de corrupção da Petrobras.
Vaccari, porém, argumentou na ocasião que as transações envolvendo os R$ 400 mil foram referentes a um empréstimo que ele fez a um amigo, o empresário João Cláudio Mente, para a compra de um imóvel.
*
Agora sou eu.
Como não achou nada nem nas contas bancárias, nem nas declarações fiscais do tesoureiro do PT, agora Moro quer que ele explique os R$ 583 mil movimentados por sua mulher, de 2008 a 2014.
A coisa é ridícula em vários níveis.
Em primeiro lugar, Moro passou recibo de que nem sabe porque prendeu Vaccari. Quer dizer, prendeu-o apenas para oferecer um espetáculo à Globo, pois se tivesse alguma acusação consistente contra ele não precisaria perguntar sobre a origem do dinheiro.
Aquela cena de Vaccari, um senhor gordinho e inofensivo, cercado de agentes federais armados de metralhadoras e fuzis posando para tvs e jornais, ficará na história como o retrato de uma era de violências midiáticas e judiciais.
Em segundo lugar, onde já se viu isso?
Manter um sujeito preso, sem prova, e depois dar cinco dias para ele explicar a movimentação bancária da… esposa!
Que eu saiba, a justiça nos condena separadamente. Eu sou eu, minha mulher é outra pessoa. Moro inovou. Condena a família em bloco. Talvez tenha se inspirado em algum ditador sanguinário. E ainda manteve encarcerada, por uma semana, a cunhada de Vaccari, “por engano”!
E agora quer que Vaccari explique a movimentação de R$ 580 mil da esposa, ao longo de 7 ou 8 anos? Pelo amor de Deus! O próprio Sergio Moro, os procuradores, os delegados, que nunca foram tesoureiros de partido ou sindicato, devem ter movimentado muito mais que isso no mesmo período!
Isso dá menos de R$ 7 mil por mês, o que é um valor irrisório para quem trabalha intensamente com política, e precisa viajar o tempo inteiro, e fazer infinitos pequenos gastos operacionais, próprios da atividade sindical, partidária, e política.
Ora, os médicos não acharam miserável o salário de R$ 10 mil que o governo oferecia no programa Mais Médicos?
Agora Sergio Moro, ídolo dos coxinhas, quer crucificar Vaccari porque a sua esposa movimentou menos de R$ 7 mil por mês nos últimos 7 anos?
Eu, a merda de um blogueiro duro, que não sou parente de tesoureiro nenhum, já devo ter movimentado metade disso, ou mais, no mesmo intervalo!
Moro não sabe que as pessoas compram e vendem coisas? Que fazem acordos, emprestam, pegam emprestado, emitem e recebem pagamentos, fazem trocas, negociações? Existem milhares de razões para movimentar dinheiro na conta bancária.
Nada disso é crime! É a vida privada de qualquer pessoa!
Moro tem a sua vidinha pacata de juiz federal, recebendo mensalmente o seu gordo salário, e acha que todo mundo tem de viver exatamente igual a ele?
A vida de um cidadão normal, que não é servidor público, que trabalha com política, é cheia de altos e baixos, de pequenas ou grandes desventuras financeiras.
Será que Moro nunca leu um romance, será que não tem imaginação?
A mulher de Vaccari deveria, no máximo, explicar à Receita, mas em liberdade, sem agressões da mídia, numa relação respeitosa e discreta entre ela e um auditor fiscal.
Por que Vaccari tem de explicar alguma coisa à Sergio Moro?
Se Moro tem alguma acusação, que o faça!
E se tem alguma acusação contra a movimentação da mulher de Vaccari, que acuse ela, não Vaccari. Não seria o certo a fazer?
Que loucura é essa, de fazer um cidadão explicar a movimentação de outra pessoa?
Será que Moro faz isso apenas para manter o nome do tesoureiro do PT sob os holofotes agressivos da mídia?
É incrível.
Moro quebra sigilos bancários, fiscais, telefônicos, expõem na mídia a vida da família Vaccari sem o mínimo respeito à sua privacidade ou dignidade, e ainda vem com essa arrogância de dar “cinco dias” para ele se explicar?
Por que cinco dias?
Por que não cinco horas, ou cinquenta dias?
Joaquim Barbosa fez escola. Tornamo-nos uma ditadura judicial, numa república de bananas.
Se Moro não tem nenhuma prova contra Vaccari, se não tem sequer nenhuma acusação concreta, deveria deixá-lo solto, respondendo a este processo kafkiano em liberdade. Qual o perigo que ele oferece à sociedade?
Se não há prova ou indício nenhum de crime, porque Vaccari tem que dar satisfação de sua vida para Moro?
Onde já se viu isso?
Olha que coisa surreal. E se a mulher de Vaccari, por exemplo, tivesse um amante argentino, que lhe desse dinheiro?
Vaccari tem que explicar isso para Moro? Tem de expor sua vida?
É lamentável o ponto a que chegamos.
É triste, além disso, constatar a covardia dos desembargadores do STJ e dos membros do Conselho Nacional de Justiça (CNJ), que conhecem muito bem o histórico de violências judiciais de Sergio Moro contra cidadãos brasileiros, e não fazem nada para impedi-lo.
Nenhuma democracia é perfeita. Mas não existe nada pior do que esta sensação de impotência diante do arbítrio judicial, que aliás só se consuma por causa do apoio que recebe na mídia.
Com alguns programas na TV, a Globo derrubava facilmente as decisões de Sergio Moro.
Não, a Globo deu-lhe o prêmio Faz Diferença, mostrando que chancela este odioso golpe judicial, que manipula, com fins políticos escusos, uma investigação policial.

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