Eunício Oliveira (PMDB-CE), que deve ser escolhido para o comando do Senado
Bernardo Mello Franco - Folha de S.Paulo
Até o fim do dia, Eunício Oliveira deve ser eleito o novo presidente do Senado. Citado em
três delações da Lava Jato, ele atende pelo apelido de "Índio" na
famosa planilha da Odebrecht. Sua tribo é o PMDB, onde exerce a
sugestiva função de tesoureiro.
Filho
de um lavrador cearense, Eunício se tornou um prodígio nos negócios.
Aos 14 anos, trabalhava no estoque de uma fábrica de biscoitos. Cinco
décadas depois, voa num jatinho particular. Seu patrimônio declarado
chega a R$ 99 milhões.
Na
origem da fortuna, estão empresas especializadas em vencer licitações.
Só na Petrobras, uma firma do senador faturou R$ 978 milhões. O maior
contrato, de "apoio à gestão empresarial", teve o valor reajustado nove
vezes. Os repasses do Banco do Brasil, do Banco Central e da Caixa somam
mais R$ 703 milhões.
Genro
de Paes de Andrade, um deputado folclórico que chegou a presidir a
Câmara, Eunício também se destaca no papel de sogro. Em 2015, presenteou
o marido da filha caçula com uma diretoria da Anac. A associação dos
pilotos protestou contra a "nomeação política, baseada na mais asquerosa
troca de favores", mas o rapaz continua no cargo.
O
primeiro delator a acusar o peemedebista foi Delcídio do Amaral.
Segundo o ex-senador, Eunício "jogou pesado" para emplacar diretores da
ANS e da Anvisa. Ele associou as indicações à cobrança de propina de
laboratórios e seguradoras.
Nelson
Melo, ex-diretor da Hypermarcas, disse ter repassado R$ 5 milhões ao
peemedebista por meio de contratos fictícios. Cláudio Melo, ex-diretor
da Odebrecht, relatou pagamentos de R$ 2,1 milhões pela aprovação de uma
medida provisória.
Apoiado
pelo governo Temer, Eunício nega todas as acusações e diz que os
colaboradores da Lava Jato "inventam" e "mentem" para incriminá-lo.
Enquanto o Supremo não liberar todas as delações, teremos que ficar com a
palavra dele. Até lá, todo dia no Senado será Dia do Índio.
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