A presidente do STF, ministra Cármen Lúcia, trabalha em seu gabinete em Brasília (DF)
Bernardo Mello Franco – Folha de S.Paulo
A ministra Cármen Lúcia evitou o pior ao homologar as delações da Odebrecht.
Desde a morte de Teori Zavascki, o acordo da empreiteira com o
Ministério Público Federal corria sério risco. A depender do novo
relator da Lava Jato, os 77 depoimentos poderiam acabar no fundo de uma
gaveta.
A
presidente do Supremo frustrou a operação-abafa, mas escolheu não dar o
passo seguinte. Mineiramente, ela evitou contrariar mais interesses e
manteve a papelada em sigilo. A decisão foi recebida com alívio pelos
investigados, que temiam a divulgação imediata das delações.
A
opção de Cármen dá uma sobrevida aos políticos dedurados pela
Odebrecht. Alguns deles estão prestes a acumular mais poder. É o caso de
Rodrigo Maia, o "Botafogo", e Eunício Oliveira, o "Índio". Mesmo
citados na lista da empreiteira, os dois são favoritos para vencer as
eleições internas da Câmara e do Senado.
O
governo também ganha tempo. Com vários ministros na berlinda, Michel
Temer continuará livre para tocar a agenda sem ser incomodado pela
polícia. Isso explica seu ar despreocupado ao dizer, em Pernambuco, que a presidente do Supremo "fez o que deveria fazer".
Há
motivos razoáveis para se defender o sigilo sobre as delações. A
divulgação pode atrapalhar o trabalho dos investigadores, e todas as
acusações dependem de provas para ter valor legal.
Por
outro lado, o sigilo dá uma vantagem extra aos políticos que têm foro
privilegiado. Na primeira instância, onde a transparência se tornou
regra, os depoimentos costumam ser divulgados em poucas horas. No
Supremo, delações e processos se arrastam por tempo indefinido, sem a
garantia de que irão a julgamento.
Já
que o apocalipse é inevitável, seria melhor que ele chegasse logo. Se a
investigação demorar demais, muita gente poderá se safar antes de
prestar contas à Justiça. Seria um bom negócio para dezenas de
políticos, mas não para o eleitor.
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