O jornal nacional conferiu veracidade ao que o eleitor tinha visto nas redes sociais.
A situação da Dilma não era boa na cidade de São Paulo.
Mas, como observa o prefeito Haddad, o resultado não precisava ser tão ruim: poderia ser parecido com o de 2010.
E, como diziam a Vox e o DataCaf, ela, nacionalmente, poderia ter uma vantagem de um a três pontos percentuais a mais.
O que aconteceu ?
O que aconteceu na cidade de São Paulo reflete, em maior escala, talvez, o que pode ter acontecido pelo Brasil afora.
O ambiente político na cidade de São Paulo estava, em 2014, muito mais radicalizado.
Os blocos PT e PSDB se fecharam, digamos assim, em fortalezas muito mais “concretados”, impermeáveis.
Havia um grupo de oito a dez pontos percentuais que podia ir pra lá como prá cá.
Um grupo que não rejeitava os dois candidatos e não tinha se decidido.
Aí, pesavam contra a Dilma dois pontos: a “corrupção” e o temor de que ela fosse capaz de dar o salto na Economia.
Uma semana antes da eleição, porém, do debate da Record em diante, ela subiu, cresceu nesse grupo indeciso.
Porque ela pode ser mais programática e o eleitor desconfiou não do que o Aécio Never falava, mas do que não falava.
Quer dizer, do programa que não apresentava.
Ela pode ter conseguido, entre segunda e terça da semana da eleição, algo entre nove e dez pontos desse grupo.
Aí, saiu a Veja na quinta à noite, nas redes sociais.
Logo em seguida, o boato de que o doleiro tinha sido envenenado, que partiu de deputado da bancada de Beto Richa, na Assembleia do Paraná.
O impacto da Veja começou a ser relevante nas redes sociais.
E se consolidou com a matéria do jornal nacional.
De quinta a domingo, Dilma perdeu oito pontos em São Paulo.
Votos que não tinham ido para ele, e foram.
Foi um impacto brutal – oito pontos – não pelos oito pontos, em si.
Mas, porque eram oito pontos decisivos.
O eleitor da Dilma sabia das denúncias de corrupção, mas votava nela apesar disso.
Mas, os indecisos, não.
Aí, para esses, a denúncia de Veja se tornou realidade no jornal nacional e nas redes sociais.
A penetração pelas redes sociais não foi só dos setores médios e pra cima.
Mas, na Classe C e na base da pirâmide de renda também.
Mas, aí, há uma diferença.
A informação que o leitor recebe na rede social está na fase do “pode ser ou não ser”, porque não houve tempo ainda de ele formar aquele núcleo de sites em que confia.
O jornal nacional, não, o jornal nacional “oficializou a verdade”.
A desconfiança em relação à Globo é altíssima.
O eleitor sabe que a Globo tem lado – é contra a Dilma e o Lula.
Ele sabe de tudo isso.
Mas, isso não significa que o jornal não noticie algumas verdades.
E aquilo que ele viu nas redes sociais pareceu verdadeiro.
E, quando o jornal nacional mostrou, a reação foi: “eu sei que o Bonner é contra a Dilma, mas isso aí é verdade” – pensou a maioria absoluta dos indecisos na cidade de São Paulo.
O jornal nacional não tem credibilidade, mas a corrupção na Petrobrás e a seca em São Paulo – isso fato, é notícia, é verdade …
As redes sociais – aí incluídos os blogs – tiveram muita relevância em 2010, 2014 – é o que demonstra a audiência record do Conversa Afiada – e vão ter mais ainda.
Por enquanto, além de noticiar, os blogs e as redes sociais tem o papel de confirmar o que o navegante já acha.
É uma câmara de eco, um espelho – está vendo ? eu sabia …
O blog é um reforço.
Mas, em 2014, em São Paulo, o blog operou num espaço muito apertado, porque o eleitor já se tinha definido e não queria ouvir o outro lado.
E os indecisos eram poucos.
Qual é a saída ?
Processar a Veja, como fez a Dilma, e os criminosos que operaram com ela, como demonstra o Globo, na Carta Capital.
Outra saída óbvia é tirar poder da Globo – e viva a Ley de Medios que a Dilma anunciou ontem (28/10).
E criar alternativa à Globo.
Na televisão e/ou nas redes sociais.
(Essas observações foram extraídas de longa conversa com quem trabalha com o eleitor de São Paulo há muito tempo.)
Paulo Henrique Amorim
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