Merval é tão absurdamente tolo que, em seu esforço patético para defender Barbosa, acabou escrevendo seu epitáfio
(originalmente publicado no Cafezinho)
Pode-se até discordar que a decisão do STF de negar prisão domiciliar
à Genoíno tenha sido um “acordo político”, como eu acho que foi, mas
que teve este significado, isso está claro.
Prendeu-se Genoíno para se soltar Dirceu. Os ministros entenderam que
não tinham força ainda para enfrentar as duas arbitrariedades ao mesmo
tempo.
Barroso lembrou que Genoíno terá cumprido um sexto da pena até final
de agosto, e que poderá passar do regime semi-aberto para o aberto. E
voltar para casa.
O caso Genoíno é o mais emblemático, neste momento, para Joaquim
Barbosa, por causa do entrevero que aconteceu entre ele e o advogado do
réu, Luiz Fernando Pacheco.
Permitir a prisão domiciliar para Genoíno constituiria uma derrota
insuportável para o presidente do STF. O plenário entendeu que ainda não
é hora de impor uma humilhação tão absoluta a um ministro com uma
popularidade mórbida como Joaquim Barbosa.
Barbosa inspira psicopatas, e não estou exagerando. Ontem, no
twitter, pude comprovar isso. Fotografei e mostro os prints abaixo. Um
sujeito que elogiou Barbosa e xingou Lewandowski, em seguida sugeriu que
eu merecia ser morto por um “sniper”, um atirador de elite.
É curioso a inversão de valores desse povo. Eles elogiam Barbosa por
ser um juiz, em tese, implacável contra o crime, mas pregam o pior dos
crimes, o crime capital numa democracia, que é o assassinato por razões
políticas. O termo “justiceiro” usado como epíteto elogioso pelos
barbosianos em relação a seu ídolo, é o exemplo disso. Justiceiro é
aquele que faz justiça com as próprias mãos, sem ligar para a lei.
Além disso, Barbosa foi astuto em relação à Genoíno. Ele mandou o
mesmo grupo de médicos antipetistas (como já pesquisamos) fazer
repetidos exames em Genoíno, e produzir laudos favoráveis à sede de
vingança do ministro. Quando os jornais falam que vários laudos de
médicos oficiais dizem que Genoíno não tem cardiopatia grave, eles
omitem que são os mesmos médicos, escolhidos a dedo por Barbosa, falando
sempre a mesma coisa. E omitem, criminosamente, que a saúde de Genoíno
efetivamente está piorando na prisão, conforme previsto por seu médico e temido por sua família.
Hoje, todos os jornalões amanheceram com manchetes enormes sobre a
soltura de Dirceu. O sensacionalismo e a pressão midiática em cima do
caso ainda persiste. Aliás, agora mais que nunca, por causa da agenda
eleitoral. A mídia corporativa, notoriamente tucana, entende que o caso
gera dano político de imagem ao PT e procura requentar ao máximo tudo
relacionado à Ação Penal 470.
Nenhuma crítica consistente aos erros da ação é publicada, ou se é publicada, não é discutida ou levada à sério.
O Globo de hoje, por exemplo, reforça a blindagem de Joaquim Barbosa.
Merval Pereira dedica sua coluna inteira a dizer que a decisão do STF
não trouxe “desmoralização” ao presidente do STF.
Trouxe sim, Merval. O próprio fato de você se sentir obrigado a falar isso é a prova.
Barroso, naquele jeito dele de gentleman britânico, desmonta todos
os argumentos esdrúxulos de Barbosa para impedir que Dirceu trabalhasse
fora do presídio.
Diz Merval que o plenário do STF não considerou “nenhuma das decisões
de Joaquim Barbosa questionável por ilegal ou despropositada”.
Considerou sim. Tanto que Barroso fez questão de enfrentar ponto por
ponto as alegações absurdas de Barbosa: que preso não pode trabalhar em
empresa privada; que não pode trabalhar em escritório de advocacia; que o
advogado seria “amigo de Dirceu”; que tem de esperar cumprir um sexto
da pena.
Todos esses pontos foram ridicularizados em plenário. Ao cabo, até
mesmo Celso de Mello parecia arrependido de ter dado o único voto em
favor de Barbosa, provavelmente também num jogo político para que o
ministro não perdesse de zero. Mello disse concordar com todos os pontos
levantados por Barroso.
Ao final de sua coluna, Merval diz que: “ficou evidenciado que
Barbosa não abusou de seu poder nem tomou decisões sem o apoio da lei”.
Ora, quando se precisa fazer uma defesa tão chapa-branca assim de um
ministro do STF, em geral é porque ele abusou do poder e tomou decisões
sem apoio da lei.
O colunista encerra o texto tentando apoiar-se, mais uma vez, na
lógica do linchamento, ao dizer que “certamente há pensamento
majoritário na sociedade, já detectado por pesquisas: o mensalão petista
só levou poderosos para a cadeia e os manteve lá pelo estilo
centralizador e autoritário de Barbosa, amplamente aprovado pela
população, a ponto de uma parcela representativa querê-lo como candidato
à presidência”.
É uma linda ode ao autoritarismo e um escárnio à função democrática e
iluminista de uma corte suprema, cujos ministros justamente não passam
pelo crivo do sufrágio universal para que tenham liberdade de tomar
decisões contra-majoritárias.
Juiz não tem de agradar “ao povo”, e isso está bem claro na doutrina
democrática de todos os países ocidentais: a razão é não amarrar os
direitos humanos de um réu ou uma causa às ondas de ódio que varrem a
opinião pública. Quem tem de agradar ao povo é o parlamento e o
executivo. Nossa mídia parece pensar ao contrário: quer um executivo
adotando medidas “impopulares”, e um supremo condenando com base em
“pensamento majoritário, já detectado em pesquisas”.
Elogiar um presidente do STF porque tem caráter “centralizador e
autoritário” e toma decisões com base em “pesquisas”, e ainda sugerir,
elogiosamente (!), que estas decisões teriam chancela eleitoral, me
parece a pior crítica a um juiz, que deveria se pautar unicamente pelos
autos, pela Constituição e, sobretudo, pelos direitos humanos.
Merval é tão absurdamente tolo que, em seu esforço patético para defender Barbosa, acabou escrevendo seu epitáfio.
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