247 – O colunista Ricardo Kotscho critica “nossa
mídia familiar e os coxinhas tucanos da elite que vão aos estádios da
Copa”, que insistem em discursos derrotistas sobre o Mundial. Leia:
Eles não esquecem, não perdoam e não aprendem. E não desistem. Para a
nossa mídia familiar e os coxinhas tucanos da elite que vão aos
estádios da Copa, como mostra a Folha deste domingo, o Brasil
simplesmente não pode dar certo, nem dentro nem fora do campo.
Sem jogar nenhuma maravilha, a seleção brasileira vinha fazendo sua
melhor partida até aqui, contra o Chile, neste sábado, no Mineirão, até
marcar o primeiro gol. Parecia até que seria fácil a classificação para
as quartas de final. De repente, numa bobeada grotesca de Hulk, que deu
de presente o gol de empate para La Roja, até então assustada em campo,
mudou tudo. A nossa torcida chique silenciou, a seleção de Felipão se
perdeu, e os chilenos tomaram conta da festa.
Nas praias do Nordeste, os bugueiros (não confundir com blogueiros)
costumam perguntar ao turista se prefere fazer os passeios pelas dunas
com emoção ou sem emoção. Para nós, ninguém perguntou nada, mas a
teimosia do nosso técnico em não mexer no time quando as coisas não
estão dando certo, mantendo dois laterais que não marcam nem atacam, e
deixam avenidas às suas costas, um meio de campo sem criatividade e o
cone Fred estático no meio do ataque, fez do jogo um sofrimento sem fim
até a cobrança do último pênalti.
Vejam como é a vida: pois foi esta mesma teimosia mostrada por
Felipão ao manter Julio César no gol, contra a vontade de 10 entre 10
comentaristas e torcedores, porém, que acabou sendo o principal
responsável pelo Brasil garantir a vaga para a próxima fase. Em lugar de
Neymar, que joga numa solidão danada, o herói desta vez foi Julio
César, o goleiro crucificado pela nossa eliminação no jogo contra a
Holanda, na Copa de 2010.
Quem poderia imaginar uma reviravolta dessas? Só conheci uma pessoa,
além de Felipão, que defendeu Julio César antes e durante o jogo, a
minha amiga Ana Paula Padrão, com quem assisti ao jogo ao lado de outros
amigos aqui no bar da esquina.
Até o Sebastian, meu primo alemão que vive nos Estados Unidos e está
adorando o Brasil, acabou sofrendo junto, cada vez que errávamos mais um
passe e o time simplesmente não conseguia chegar ao gol do Chile. "Eu
não disse?" comemorou a Ana Paula ao ver Julio César fazer uma defesa
impossível e depois defender dois pênaltis.
Se já não era muito grande a confiança na conquista de mais um título
porque esta Copa revelou ótimas seleções, como a da Colômbia, que estão
jogando um futebol melhor do que o nosso no momento, agora a urubuzada
da imprensa deitou e rolou diante das dificuldades que encontramos,
depois de muita emoção, para seguir em frente na Copa. E tem graça
futebol sem surpresas e emoções?
Após passar o ano inteiro jogando no "Não vai ter Copa" e batendo
pesado no governo, que seria incapaz de organizar um evento como esse
sem colocar em risco os torcedores nativos e as seleções visitantes,
além dos cofres públicos, eles acabaram se rendendo à grande festa em
que se transformou esta Copa no Brasil, e até já estão fazendo
autocríticas envergonhadas sobre o erro das suas previsões apocalíticas.
Agora, com a maior cara de pau, simplesmente colocam a culpa na
"imprensa estrangeira", como se não tivessem sido eles próprios que
alimentaram o noticiário negativo desde que o Brasil foi escolhido, sete
anos atrás, para sediar a Copa.
Como se dissessem, tudo bem, a Copa é um sucesso, mas vocês vão ver a
ressaca que virá depois, agora jogam tudo nas fragilidades da nossa
seleção, mudando o discurso para "Não vai ter hexa". Felipão pode até
ter um estalo e acertar o time para o próximo jogo que eles vão
continuar torcendo contra e anunciando o fim do mundo. Se fora de campo
tudo está funcionando muito bem, então dentro do campo tem que dar tudo
errado.
Ganhar ou não o hexa pode depender de mil coisas, inclusive da sorte
na cobrança de pênaltis e das virtudes de adversários cada vez mais
fortes daqui para a frente. Como disse um amuado Felipão na véspera do
jogo, se perdermos, não vai ser nenhuma tragédia, e a vida vai seguir em
frente. Só uma certeza eu tenho: para quem jogou tudo no caos para
desgastar o governo e ficou até com vergonha do Brasil, no entanto, esta
Copa já foi perdida. Eles parecem ter nascido para perder.
Que venha a Colômbia!
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