O Brasil vive hoje sob uma cruzada evangélica (e evangelizadora),
nome de Jesus Cristo. Seu objetivo é salvar a alma das pessoas para
Jesus, ante a ameaça desagregadora de uma sexualidade “perversa” e um
modelo “pervertido” de família. Que contaria com a leniência das
autoridades públicas e dos militantes de esquerda, fora e dentro do
Congresso Nacional. 0s oitenta e cinco parlamentares evangélicos, sob o
comando do Presidente da Câmara dos Deputados, e apoiados pela bancada
da bala e a bancada ruralista, vêm festejando no plenário da Casa cada
vitória da sua causa, repercutindo no Legislativo, as vistosas “Marchas
para Jesus” em favor da Família, da Propriedade e da Liberdade.
0 ambiente só não é parecido com o pré-1964 no Brasil, porque não há
consenso em amplo setores da população brasileira sobre a agenda
golpista dessas manifestações. Nem os militares se aventuram num novo
golpe de Estado. Mas o cenário assusta: não só pelo crescimento do ódio,
da intolerância em relação aos diferentes, mas também pelo rolo
compressor do conservadorismo no Congresso, liderado por um acólito da
Igreja sara Nossa Terra, sequioso de poder.
Já fui mais tolerante e compreensivo em relação aos religiosos. Tive
uma longa educação em colégios católicos romanos e presbiteriano
(animado por missionários norte-americanos). Estudei e lecionei em
Universidade Católica (Jesuíta), mantendo uma longa convivência
harmônica e proveitosa com padres e pastores. Aprendi muito com eles.
Cheguei a ser vice-coordenador de um bispo da Igreja Episcopal, na
Pós-graduação de Ciência Política, por muitos anos. E posso dar o meu
testemunho de que eram pessoas de mentalidade aberta e progressista.
Nos dias atuais, venho perdendo a paciência e a tolerância com esses
grupos religiosos que disputam votos dos eleitores, em nome de Jesus
Cristo. Se não fossem tão fundamentalistas e semi-analfabetos,
recomendaria que estudassem mais a Bíblia. Não para aceitarem
acriticamente os costumes patriarcais dos antigos judeus exilados do
Egito, em busca da Terra Santa…dos palestinos. Sugeriria que
pesquisassem sobre o modo de vida dos Essênios, os cristãos primitivos,
tomados por Engels como modelo de comunistas.
A sua simplicidade, seu despojamento, a sua humildade, o seu exemplo
de vida. Em tudo contrário à chamada “Teologia da prosperidade” de certa
Igreja neo-pentecostal, ou a amostração espalhafatosa desses cortejos
triunfais para Jesus. Nada disso combina com o espírito de humildade,
pobreza, simplicidade que os primeiros cristãos ostentavam, sem alarde.
Mas pelo visto o objetivo dessa turma é outro: não é ganhar as almas
para Jesus Cristo. É ganhar os votos de eleitores incautos, que
confundem o mundo profano da política com o mundo sagrado da Bíblia, tal
como é lida e interpretada por esses fanáticos. E é aí onde mora o
perigo. Eis “o ovo da serpente” sendo, pouco a pouco, chocado pelas
larvas do ódio, da raiva, do ressentimento, da ignorância. Templos
apedrejados, perseguição aos portadores de uma orientação sexual
distinta, encarceramento de menores, pena de morte, onde vamos parar?
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