Publicado no blog 247
Prezado amigo José Antonio Cid Pires
Participei da manifestação de 13 de
março, sexta-feira aqui em Goiânia e, depois que sai de lá, li tudo o
que pude sobre o que aconteceu nesse sentido em todo País.
Na “carta” que
escrevi na madrugada de 14 de março avaliei o que vi, fiz críticas e
propus avanços no discurso, na construção de um programa mínimo de união
nacional e mais mobilização incluindo as grandes lideranças
comprometidas com o desenvolvimento com justiça social e com os direitos
dos trabalhadores.
Porém, apesar de me preocupar com a
necessidade do aprofundamento dos discursos dos líderes do movimento
social, com a análise política mais calibrada com a realidade e com o
projeto sério de Brasil, não vi ignorância nem falta de respeito. Vi e
ouvi pessoas extremamente preocupadas com o Brasil e comprometidas com o
povo.
Como comentei na aludida “carta”,
participei da mobilização aqui em Goiânia. Antes e depois de eu falar
ouvi atentamente lideranças dos trabalhadores na agricultura, de
trabalhadores urbanos, das mulheres, dos homossexuais e travestis,
vereadores, deputados, intelectuais, religiosos de visão social
progressista, trabalhadoras domésticas etc. Todas expuseram preocupações
sérias com os pressupostos que defendem e com o Brasil. Em nenhuma ouvi
falta de respeito, baixaria ou ignorância política.
Já no dia 15 de março viu-se as
manifestações em rede nacional das TVs, acentuadamente da Globo e da
Globo News, barbaridades de falta de respeito às autoridades, às
instituições, ao povo e ao Brasil.
Não faltaram cartazes grosseiros com
erros clamorosos de linguagem, com afirmações criminosas e até com
instinto assassino ameaçando a Presidenta Dilma de morte com
enforcamento numa ponte de São Paulo e com o pedido de que ela fosse
enviada para a Indonésia, sugerindo o seu fuzilamento.
Entre as barbaridades constou a chamada de golpe militar com cruz suástica e tudo.
Soma-se se a essa agressão à
democracia e aos cidadãos que votam e lutam por um País mais justo o
apelo insano pelo impeachment da Presidenta.
Pareceu-me claro que a essência do
movimento não foi a corrupção, que todos devemos recriminar, exigir
investigação antes de julgar e punir os corruptos e corruptores. Não, o
ódio todo é consequência de gigantesca confusão, da falta de educação
política e conhecimento mínimo dos conceitos das coisas.
À noite a rede Globo colocou no
programa Fantástico o ministro aposentado do STF Ayres Brito, que falou
que o impeachment não tem base legal. Não há motivos para esse
procedimento jurídico e político. A Presidenta não cometeu nenhum crime.
Portanto, a turba violenta, mal
educada, grosseira e com maus instintos pede uma ilegalidade brutal que
afronta à Constituição e o País, como os Estados Unidos conseguiram
fazer em Honduras e no Paraguai, derrubando seus Presidentes.
Antes de Ayres Brito, bem antes
dele, inúmeros juristas categorizados e até mesmo militantes da
oposição, ainda que engolindo em seco e de modo cínico, já afirmaram da
impossibilidade do instituto impeachment no caso tão sonhado pelos
moleques que fazem de conta que se mobilizam, principalmente em São
Paulo, ninho dos incultos de política e reacionários preconceituosos.
Outra aberração é o pedido de
intervenção militar. Aí se manifesta o instinto mais criminoso e
ignorante de quem pressiona por essa excrescência.
Primeiro, porque os militares quando
ajudaram a precipitar o Brasil no abismo da ditadura a partir de 1º de
abril de 1964 o fizeram atropelando todos os direitos civis, humanos e
políticos, entrevando o País. Os que deveriam servir a Pátria
perseguiram, prenderam, torturaram e mataram cidadãos patriotas, de modo
a nada dever às atrocidades fascistas e nazistas.
Clamar por golpe militar é dar vazão
ao que de pior atua nas mentes e corações dos bandidos que pressionam
por golpe contra nosso País, objetivando abrir caminhos para o assalto
imperialista às riquezas de nosso subsolo.
A coisa é tão horrorosa que o
Ministro aposentado também do STF Carlos Mario da Silva Velloso,
entrevistado no mesmo programa Fantástico, afirmou que chamar os
militares ao golpe é afrontar e subverter a Constituição.
Golpe militar é golpe. Golpe é crime
contra a soberania popular e nacional. Os militares não têm essa
destinação para dar golpes e fazer ditaduras.
O filósofo Renato Janine Ribeiro
definiu bem a delinquência que se viu em 15 de março: “Estamos tendo no
Brasil uma tolerância, que é grande, com condutas antidemocráticas que
deveriam ser tipificadas como criminosas… Pregar a volta dos militares
deveria ser crime, deveria levar a pessoa para a cadeia. Vários países
da Europa criminalizaram a pregação nazista. Nós – que tivemos uma
ditadura militar – deveríamos criminalizar a pregação da ditadura.”
O que se viu desde junho de 2013 a
este show de analfabetismo ético e político é a exteriorização de um
vazio terrível que salta das mentes insanas dessas pessoas que não têm
formação de qualidade.
O que assistimos pelo Brasil,
principalmente em São Paulo, acontece quase todos os dias nas escolas,
faculdades e empresas. As pessoas se comportam com tremenda falta de
ética envolvendo-se em acusações sem prova, em fofocas demeritórias da
honra e da dignidade das pessoas. E, da mesma forma como protestam, agem
de modo covarde e despeitoso com os outros de quem discordam, que temem
por se sentirem inferiores ou de quem têm inveja preconceituosa.
Ainda citando o filósofo Ribeiro: “A extrema-direita está se distinguindo do restante por um ódio cabal aos direitos humanos.”
“Atacam o homossexual, a igualdade
de gênero, os direitos das mulheres, e por aí. Tudo isso tem um alcance
muito grande no Brasil”, disse o filósofo Renato Janine Ribeiro em
palestra em São Paulo (informação do site Brasil 247).
Percebo que a direita, a oposição e a
mídia, a serviço dos interesses estrangeiros poderosos, se aproveitam
do vazio deixado pela educação humanista que faliu nas instituições
comerciais e no Estado, ainda debilitado na realização de políticas
públicas na educação de qualidade, para carregar as pessoas como manadas
de bois conduzidas ao abismo.
Valeu tudo, inclusive mentir como
fizeram os mobilizadores ao usarem indevidamente um banner como se o
Arcebispo de São, o Cardeal Odilo Scherer, convocasse os católicos para a
manifestação golpista de direita, por ele desmentida.
A solução para reverter e tirar a
sociedade das trevas pavorosas parte do povo mobilizado, como
incansavelmente sempre digo e pelo governo ao atender os anseios sociais
e do Brasil e não do mercado corruptor e golpista.
- Abraços críticos e fraternos na luta pela justiça e pela paz sociais.
- Dom Orvandil: editor deste blog, idealizador e presidente da Ibrapaz, bispo da Diocese Brasil Central e professor universitário.
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