Bernardo Mello Franco – Folha de S.Paulo
Em meio ao debate da reforma política, há quem sonhe em ressuscitar
uma ideia enterrada pela Constituição de 1946: o lançamento de
candidaturas avulsas. A proposta foi reapresentada pelo senador José
Antônio Reguffe (PDT-DF). Ele quer permitir que candidatos disputem
cargos públicos sem estar filiados a um partido.
O projeto pega carona na insatisfação geral com o establishment
político. Segundo o Datafolha, 71% dos brasileiros não têm um partido de
preferência. É o maior percentual desde o início da pesquisa, em 1989.
"Grande parcela da população brasileira hoje não acredita em partido
político nenhum", discursou Reguffe na tribuna. No texto, ele escreveu
que "uma reforma política séria passa pelo respeito e valorização do
eleitor e das pessoas de bem desse país, e não pelo fortalecimento de
máquinas partidárias".
O conceito de pessoa de bem é tão elástico quanto o sistema
partidário atual. Em uma campanha, pode ser reivindicado por uma freira
ou por um empreiteiro disposto a bancar a própria eleição para facilitar
seus negócios com o governo.
A bandeira das candidaturas avulsas já foi defendida por Marina Silva
e Joaquim Barbosa. Ambos devem parte de sua popularidade à associação
do carisma pessoal a um discurso contra "tudo o que está aí".
Marina disputou duas eleições presidenciais por siglas provisórias.
Deixou o PV nove meses depois da primeira e deve sair do PSB seis meses
após a segunda. Na prática, foi candidata de si mesma, o que contribuiu
para as derrotas --especialmente a de 2014, quando lhe faltou tropa
para reagir à artilharia petista.
A falta de suporte partidário também pode ser fatal para governantes,
como mostram as quedas de Jânio Quadros e Fernando Collor. Os partidos
formam as bases da democracia representativa. O Brasil precisa
depurá-los e fortalecê-los, e não transformar a política em um grande
bloco do eu sozinho.
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