Bernardo Mello Franco – Folha de S.Paulo
Quem
é o maior culpado pelo petrolão? Os hierarcas da Petrobras, que
superfaturaram contratos? Os empreiteiros, que pagaram propinas
milionárias? Os partidos políticos, que abasteceram campanhas com
dinheiro sujo? Ou o governo, que nomeou os larápios e lavou as mãos, no
mínimo, diante da roubalheira na estatal?
Na
opinião da CUT (Central Única dos Trabalhadores), a resposta não está
entre as opções acima. A grande vilã seria a mídia, essa entidade
maligna que sonha em entregar o nosso petróleo aos gringos.
"Para
o presidente da CUT, Vagner Freitas, é fundamental que a população
entenda que o massacre que a Petrobras vem sofrendo nos últimos meses,
em especial por parte da grande mídia, tem objetivos econômicos", afirma
a central em nota.
"Oportunistas
de plantão querem usar a conduta criminosa de alguns funcionários de
alto escalão para preparar a empresa para a privatização", prossegue o
sindicalista.
Esse
é o discurso que a CUT fará no ato "Defender a Petrobras é defender o
Brasil", na próxima terça-feira. Acredita quem quer, mas não custa
recolocar alguns pontos no lugar.
O
"massacre" contra a estatal, a que Freitas se refere, não foi praticado
pela mídia. Seus responsáveis estão listados no início da coluna,
embora o sindicalista prefira omiti-los.
Os
"oportunistas" não são jornalistas, e sim aqueles que usaram o acesso à
petroleira para roubar. O papel da imprensa é outro: noticiar os
desvios, investigados pela Polícia Federal e pelo Ministério Público.
A
privatização da estatal pode ter sido cogitada por tecnocratas do
governo FHC, mas foi limada do debate político há mais de uma década. Só
ressurge em campanhas eleitorais, como arma da propaganda do PT.
O
partido festejou 35 anos há duas semanas. No ato, seus militantes foram
instados a defender o governo. O presidente da CUT, que estava no
palanque, devia procurar argumentos melhores para cumprir a tarefa.
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