247 – Depois de se dizer "enojada"
com a entrega do Troféu Mário Lago 2014 ao jornalista William Bonner,
editor-chefe e âncora do Jornal Nacional, da Rede Globo, Graça Lago,
filha do artista, afirmou que a premiação, pela primeira vez desde que
foi criada em homenagem a seu pai, em 2002, se transformou em um "ato
político". O prêmio foi entregue no Domingão do Faustão, no último
domingo 21.
"(...) desta vez, foi tudo diferente, foi tudo armado e
instrumentalizado (como quer o bonner) para fazer da premiação um ato
político, de defesa das orientações facciosas da globo e de seu
principal (embora decadente) telejornal. Foi uma pretensa maneira de
usar o prêmio para abafar as críticas que a partidarização do JN e de
seu editor/apresentador vêm recebendo", escreveu a jornalista, no portal
Diário do Centro do Mundo.
Leia abaixo a íntegra:
Primeiro, me apresento – sou Graça Lago, filha de Mário Lago,
tenho 63 anos, 50 de militância política e 46 de jornalismo. O prêmio
com o nome de papai foi instituído em 2002, ano da morte dele, e parecia
uma homenagem bacana à memória dele. Nada grandioso, nem um pouco
espetacular, apenas um prêmio corriqueiro de uma emissora de TV (onde
ele trabalhou muitos anos) e destinado a homenagear artistas,
principalmente atores. Nada especial, mas que poderia manter a sua
lembrança viva. Bacana.
Nunca nos consultaram sobre isso, mas confesso que fiquei
profundamente emocionada quando, passados sete meses da morte de papai,
foi anunciado o prêmio, com um belo clipping sobre a trajetória dele e
dedicado à grande atriz e pessoa de Laura Cardoso. Durante todos esses
anos, o prêmio se manteve em um patamar honesto, com homenagens a
diferentes artistas. Ainda que não concordasse com um ou outro, nenhum
ofendia a memória de papai; nem na escolha e nem na cerimônia, é
importantíssimo registrar.
Mas, desta vez, foi tudo diferente, foi tudo armado e
instrumentalizado (como quer o bonner) para fazer da premiação um ato
político, de defesa das orientações facciosas da globo e de seu
principal (embora decadente) telejornal. Foi uma pretensa maneira de
usar o prêmio para abafar as críticas que a partidarização do JN e de
seu editor/apresentador vêm recebendo.
Em tudo o prêmio fugiu aos seus propósitos originais. Bonner não é
um artista, a não ser na arte de manipular e omitir os fatos. O evento
virou um circo de elogios instrumentalizados. Enaltecer a
"imparcialidade" com que ele e sua parceira conduziram as entrevistas
com os presidenciáveis é esquecer que ele não deu espaço para uma só
resposta de Dilma Rousseff; é esquecer que ele e sua parceira ocuparam
mais da metade do tempo estipulado para a entrevista com a presidenta. É
esquecer que esse tratamento não foi dedicado a qualquer outro
entrevistado. É esquecer que, mesmo no auge das denúncias sobre os
escândalos dos aeroportos de Cláudio e Montezuma, o sr. Aécio não foi
pressionado nem um terço do que foi Dilma Rousseff para explicar os
flagrantes delitos dos empreendimentos. É esquecer que, mesmo frente às
denúncias da ilegalidade do jato de Eduardo Campos, a sra. Marina não
teve qualquer questionamento contundente (e viajava, sim, no jato). Isso
para não falar de mil e outros atos de atentado à informação praticados
no JN, como bem foi demonstrado pelo laboratório da UERJ.
Mas não parou aí. Ouvir o bonner criticar as redes sociais
revirou o meu estômago. Ouvir o bonner chamar os que o criticam, e à
Globo, de robôs instrumentalizados é inqualificável. É um atentado à
democracia.
Tudo demonstra que o prêmio, criado talvez até por força de uma
admiração por meu pai, foi usado este ano politicamente, para proteger
com a respeitabilidade e memória de Mário Lago o que não tem respeito,
nem nunca terá.
Se a intenção foi política, politicamente me manifestei.
Não poderia ouvir calada todas essas imensas ofensas à memória de
meu pai. Meu pai era um homem político, e assim se manifestava e
comportava cotidianamente. Não aceitaria, jamais, ser manipulado por
excrecências como essa. Vi meu pai recusar propagandas bem remuneradas
por discordar politicamente delas. Sempre trabalhou e ganhou o seu
salário com a maior decência.
Por sua postura, mereceu a admiração e o respeito até de homens
como Roberto Marinho. No final dos anos 60, o Exército informou à Globo
que queria papai como apresentador das Olimpíadas do Exército. Seria uma
maneira de humilhá-lo, de jogar no lixo a sua biografia. Roberto
Marinho recusou o pedido justificando da seguinte forma: "se o Mário
recusar, terei que demiti-lo; se o Mário aceitar, perderei o respeito
por ele". Meio século depois, a Globo tentou jogar no lixo a biografia
do meu pai. A isso digo não e me manifesto publicamente sobre a imensa
farsa montada nesta premiação do jornalismo mais instrumentalizado e
faccioso deste país.
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