Texto de Ricardo Kotscho: A mídia livre contra a velha mídia e a Justiça tucana
"O Brasil vive não somente uma crise moral, mas também a da razão. Talvez prepare o caminho para outra, maior e fatal. Algo é certo: o Brasil não está maduro para o jornalismo honesto".
"O Brasil vive não somente uma crise moral, mas também a da razão. Talvez prepare o caminho para outra, maior e fatal. Algo é certo: o Brasil não está maduro para o jornalismo honesto".
(Assim termina a coluna de Mino Carta, na Carta Capital desta
semana, publicada sob o título "Gigolette em Estocolomo", que vale a
pena ler).
***
Algo de revolucionário anda acontecendo na relação entre produtores e
consumidores de informações em nosso país. Esta semana, por exemplo,
destaquei uma contradição entre o bombardeio sem tréguas desfechado pela
velha mídia familiar contra Dilma Rousseff e o PT, ao mesmo tempo em
que a aprovação e a popularidade da presidente subiam no Ibope.
Chamo de velha mídia familiar os grandes grupos de comunicação
comandados pelos herdeiros de meia dúzia de barões, em contraposição à
nova mídia livre que se tornou possível, e não para de crescer, desde o
advento da internet, que permitiu a todo mundo se tornar, ao mesmo
tempo, emissor e receptor de informações e opiniões.
Trata-se, enfim, da democratização da mídia, com a multiplicação de
plataformas e agentes, acabando com o poder dos donos da verdade e seus
porta-vozes, os antigos "formadores de opinião", hoje hospedados no
Instituto Millenium.
A primeira vez em que notei esta clara oposição entre a nova e a
velha mídia foi na campanha presidencial de 2010, quando o então
candidato tucano José Serra batizou todos os que se opunham a ele de
"blogs sujos", certamente para diferenciá-los dos "blogs limpinhos" e
seus donos, que o apoiavam.
Desta forma, os jornalistas não alinhados ao tucanato estariam
condenados ao opróbio, blogueiros sem ccredibilidade, mas, com bom
humor, muitos deles até adotaram a classificação nos encontros que
passaram a promover para unir forças.
A divisão das mídias voltou a ser feita esta semana pelo jornal Folha
de S. Paulo, ao divulgar os gastos com publicidade feitos pelo governo
federal e as empresas estatais, no período entre 2000 e 2013.
Na divisão do bolo, segundo o próprio jornal, os grandes grupos da
velha mídia ficaram com R$ 8,66 bilhões, restando cerca de 0,5% deste
valor para o que a Folha definiu como "mídia alinhada ao governo", ou
seja, chapa-branca.
Diante desta disparidade colossal, Mino Carta, com a agudez de costume, comentou em sua coluna:
"Dirá o desavisado: alinhados e mal pagos (...). Ao listar os
pretensos alinhados e não qualificar os demais, a Folha nos atribui o
papel de jornalistas de partido e com isso fornece outra prova: como
sempre, obedece aos seus naturais pendores e, no caso, manipula a
informação e omite a qualidade dos demais, alinhados de um lado só,
guiados pelo pensamento único enquanto, hipócritas inveterados, declaram
sua isenção, equidistância, pluralidade. Ou seja, inventam e mentem".
Por mais que estejam perdendo audiência e circulação, estes veículos
da velha mídia mantêm poder e faturamento, graças a uma sólida aliança
construída nos últimos tempos com alguns representantes das mais altas
instâncias do Judiciário a serviço do tucanato, como vimos no episódio
do mensalão e se repete agora com o que chamam de petrolão.
Na verdade, esta tabelinha entre os nobres da mídia e da Justiça
ocupa o espaço deixado pela oposição partidária, agora mais
destrambelhada e perdida do que nunca no combate ao governo petista,
como já admitiu a própria Associação Nacional dos Jornais (ANJ).
Já não dá para saber se é a mídia que pauta o Judiciário, ou
vice-versa, na mesma data. Nem é preciso citar nomes, para não fulanizar
a questão, tão descarada é a atuação de alguns dos líderes desta
aliança, que se autonomeou defensora da ética, do bem e dos "brasileiros
decentes" (em alguns casos, parece até brincadeira...).
Ou alguém pode acreditar que eles estão mesmo preocupados em combater
os fichas sujas da política (até o nosso eterno Paulo Maluf voltou a
ficar com a ficha limpa, graças à Justiça) e os desmandos na Petrobras,
já que o único objetivo é privatizar nossa maior empresa, de preferência
nas mãos de empresas estrangeiras?
Como escrevi aqui na sexta-feira, não faço nenhuma questão de ter
razão. Basta-me escrever o que penso sem pedir licença a ninguém.
Agora, abro este espaço para que os caros leitores do Balaio ocupem
meu lugar e também digam o que pensam sobre o assunto. Não precisam
concordar comigo. Mídia livre é isso: cada um pensa e diz o que quer.
Manifestem-se
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