Helena Chagas - Blog Os Divergentes
Se alguém espera nos próximos dias uma leva de demissões ministeriais, renúncias a funções importantes no Congresso e no governo e reações afins à abertura dos inquéritos pedidos pela lista de Janot e à divulgação dos depoimentos da Odebrecht, é grande a chance de sair frustrado. A palavra de ordem em Brasília hoje é normalidade.
Ainda que esteja todo mundo em pânico, os políticos acusados vão se comportar como se nada estivesse acontecendo, tentando votar e cuidando de outros assuntos da agenda – inclusive, e sobretudo, os do Planalto. O “day after” do tsunami não terá, ao menos na superfície, um cenário de destruição.
Por quê? Porque todo mundo sabe que, apesar da inevitável desmoralização e desgaste político que recairá sobre esses políticos, em Brasília as coisas andam devagar. Até que a citação no inquérito se transforme em investigação de fato, ou produza efeitos concretos, algum tempo se passará.
Tempo suficiente, por exemplo, para Eliseu Padilha retornar à Casa Civil e manter o foro privilegiado da hora em que as acusações contra ele baterem no STF. O ministro está em teste. Se as coisas piorarem ainda mais, pode sair – ou primeiro pedir afastamento e se licenciar. Da mesma forma, outros ministros sabidamente citados, como Moreira Franco, Aloysio Nunes e Gilberto Kassab, não pensam em mover uma palha para deixar seus cargos neste momento.
Tempo suficiente também para que todos eles participem da articulação que poderá resultar numa lei de anistia do caixa 2 e de outros crimes correlatos, separando, como dizem, “o joio do trigo”. Com isso, resolve-se a vida de muita gente, até porque o comportamento geral segue a linha da cara-de-pau de sempre. Todo mundo recebeu caixa 2, e não propina. O joio são os outros.
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