Andrei Meireles - Blog Os Divergentes
Pelo que ouço de investigadores, nos próximos dias Aécio Neves vai para a ribalta da Lava Jato. Por seu desempenho em Minas Gerais e em Brasília.
A conferir.
O fato é que nos bastidores e, mais recentemente, no palco, Aécio Neves se faz porta-voz de uma narrativa para diferenciar quem se beneficiou de maneira diferente do dinheiro empresarial investido na política.
Não importa se a origem dele é limpa ou suja.
Uns teriam usado a grana apenas para se eleger e outros, também, para enriquecer.
O que prega Aécio, em uma tese consensual entre as principais lideranças políticas, é que, a exemplo da parábola bíblica, é preciso separar o joio do trigo.
Quem seguiu a regra do jogo eleitoral, recebeu dinheiro por baixo dos panos, se não houver provas de que tenha retribuído o favor com benesses públicas ou embolsado parte da grana, mereceria penalidade menor.
Talvez nenhuma punição.
Se os tribunais andam entendendo de maneira diferente, seria o caso da Câmara e do Senado, com a sanção presidencial, deixar isso explícito, e anular o avanço na Justiça ao abrir uma brecha contra a eterna impunidade dos poderosos.
É a tal anistia ao Caixa Dois. Ou coisa parecida.
Ano passado, a gente assistiu essa série no Congresso, sempre com capítulos surpresas, e episódios na calada da noite.
A diferença agora é que atores ocultos entraram em cena.
Um deles é o próprio Aécio Neves.
Outro é Rodrigo Maia, que presidiu a sessão noturna em que o pacote de medidas proposto pelo Ministério Público, com o apoio da população, virou um monstrengo.
Ambos agora estão no palco.
Em entrevista à repórter Júnia Gama, publicada no jornal O Globo, Rodrigo Maia expôs a nova estratégia:
“Essa discussão tem que ser transparente, tem que apresentar antes qual texto será votado, não enganar a sociedade sobre o que se pretende fazer. Debatendo de forma clara não fica parecendo algo pior do que é na realidade”.
Perfeito, Rodrigo.
Sua declaração pode ser lida como uma autocrítica das manobras sob o seu comando para aprovar, por baixo dos panos, uma absurda represália por não terem conseguido votar uma anistia para si próprios.
Reconhece também que o mérito da proposta é no mínimo duvidoso.
Não há outra leitura para “não fica parecendo algo pior do que na realidade”.
Eles queriam mais, uma anistia ampla, geral e irrestrita para quem se lambuzou no dinheiro sujo do Caixa Dois.
Como não conseguiram, pedem agora uma gradação das penas.
Aécio Neves, Rodrigo Maia, Lula, Dilma Rousseff e a elite política brasileira de todos os naipes com certeza sabem agora o valor do pedágio para terem chegado aonde chegaram.
Antes até podiam alegar que não haviam entendido direito. Distribuir responsabilidades e culpas.
A Lava Jato pôs tudo e todos a nu.
Ainda não ouvi sequer um pedido de desculpa de nenhum deles.
Sempre é tempo.
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