Cinco, seis anos?
A vida no Brasil não era assim.
É bom falar, porque a memória, nestes tempos de angústia, foge ao desânimo de cada manhã.
Fomos, sim, um país sem crise.
Havia – e não há agora? – corrupção, como havia fila nos hospitais, déficit na habitação, carência na educação, pilantragens públicas e privadas, deputados, senadores e ministros sem-vergonhas.
Mas também havia sonhos, havia progressos, havia planos, havia a casinha, o carro usado que levava a família a passear, a reforma da cozinha, finalmente; havia o emprego e o salário subia.
Discutíamos quanto mais do dinheiro público deveria ir para a educação, para a saúde…
As obras, algumas com seus superfaturamentos – como disse o pai do Odebrecht de hoje, desde o tempo do seu avô – e quase todas com atraso, andavam e a cara do país mudava…
Havia o pré-sal, a esperança de uma emancipação do país que jazia e jaz sob o mar.
Não se apressem os tolos a ver aqui defesa da corrupção de quem nunca a fez e tem nojo e raiva de quem rouba seu povo.
Mas aí veio o “Padrão Fifa” – aliás, corruptíssimo – que os tolos acharam ser “a esquerda”, porque tinha adolescentes e bobocas mascarados.
Uma dúzia de estádios de futebol – pouco se falava em roubalheira neles, aliás – eram os culpados de nossas carências e precariedades. O “Não vai ter Copa” era a brincadeirinha destes grupos, como se nos 501 anos em que não a houve (afora 1950, com direito ao Obdúlio Varela, o “2 a 1 pré 7 a 1”) tivesse existido sempre um tempo de progresso e felicidade neste país.
A classe média (a velha e a nova, incensada e endeusada) principiava a mostrar seus dentes, começava-se a soltar nas ruas a multidão de zumbis da moralidade.
Em maio de 2013, na retomada deste blog, 8.700 posts atrás, isso já nos alertava:
“Se não entendermos que teremos, nas eleições do ano que vem, de enfrentar corações e mentes desta classe média ascendente com o máximo de solidez possível na base de apoio ao Governo progressista, estaremos correndo sérios riscos.
Isso, de maneira alguma, significa deixarmos de pensar o que pensamos e combater desvios – políticos e pessoais – do poder.
Mas, também, e jamais, esquecermos que a luta que se trava é maior e mais, muito mais, importante e vital.
É pelos direitos do povo brasileiro – mesmo os de sua classe média – de viver melhor, num país livre, que não mais será escravo de ninguém.”
Quis o trocadilho do destino que chamasse Moro o personagem da onda de moralidade que sempre foi a arma da direita no Brasil.
E então chegamos a este 2017, onde a classe média emudeceu, sabe-se lá porque tenhamos atingido o “Padrão Fifa”, com um traste como Michel Temer no Governo e seu ministério onde muitos são os ladrões e todos uns canalhas, cúmplices da destruição do Brasil.
Não há mais casinha, não há mais o carrinho sonhado, o emprego se foi, o salário minguou, discute-se não como dar mais verbas à saúde e à educação, mas onde e como cortá-las, as obras pararam ou sumiram, a histeria e a agressão passaram a ser a forma de nos relacionarmos. De projeto nacional, hoje, só um ocorre: prender, prender e prender mais.
A mídia. o lixo da política e a nossa gorda elite judicial nos lançaram num país agora triste, bruto, sem esperanças , o país que é seu próprio retrato.
É por isso, e não entendem, que Lula vencerá as eleições.
Ou que, se o impedirem de disputar, teremos outro governo ilegítimo e de pântano adiante de nós.
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