Renan Santos, do MBL, na discursa na Paulista |
Um boneco pedindo “Fora Renan Calheiros” e o Lula Inflado
estavam no cruzamento entre a Alameda Ministro Rocha Azevedo e a Avenida
Paulista, a poucos metros do MASP.
Nenhum inflado contra Michel Temer. Nenhum discurso pedindo
seu impeachment. O novo vilão da turma é Renan Calheiros, enquanto as
porradas contra o ex-presidente servem pra lembrar que eles continuam
antipetistas, mesmo com o PT fora do governo.
Se alguém tinha dúvida ou esperança de que os coxinhas
finalmente se tocaram das falcatruas do governo golpista ou mesmo sobre a
seletividade do juiz Moro, 15 minutos eram suficientes para desfazer a
esperança.
As pautas eram claras e estavam num carro de som do
movimento Vem Pra Rua: apoio irrestrito à Lava Jato, fim do foro
privilegiado e defesa das 10 Medidas Contra a Corrupção criadas e por
Deltan Dallagnol e cia.
“Tivemos milhões de dinheiro público desviados que foram
para fora do país. Temos que tirar todos eles. A Lava Jato não pode
parar! Teremos orgulho de encher essa Avenida Paulista quando Renan e
Lula forem presos”, berrou Carla Zambelli, do NasRuas.
O Vem Pra Rua, que convocou a manifestação, concentrava a
maior parte do povo que defendida o combate à corrupção. Mas, ao
contrário do esperado, não havia união entre todos os verde-amarelos.
“Nós não estamos aqui para defender a intervenção militar e
nem as forças armadas. Queremos que a Justiça funcione”, gritavam os
militantes.
Dois carros de som perto da TV Gazeta e do shopping Cidade
São Paulo pediam o auxílio das Forças Armadas para dar um novo golpe. “A
Paulista está poluída de esquerdistas. Eles estão em todo o lugar. E
quando tomarmos o poder, eles vão saber quem realmente se preocupa com o
povo. Em 64, os militares tornaram a sociedade melhor. Vamos brigar
pelo que é melhor pelo povo!”, berrou uma mulher de cabelos louros
tingidos.
Pouco à frente dos pró-militares, e em quantidade menor,
estava o MBL de Kim Kataguiri. Utilizando uma retórica de pastor
evangélico, Renan Santos, um dos líderes, envolvido em mais de uma centena de processos, discursou sobre como eles não são favoráveis a nenhum político que está no poder.
“Ninguém aqui é a favor de nenhuma corrupção. Ninguém aqui
quer proteger ninguém. Se o Temer tiver que cair, ele vai responder por
isso. O Renan Calheiros tem que cair e todo mundo aqui é à favor da Lava
Jato. Esse Congresso praticou um estupro enquanto todo mundo estava
chocado com a tragédia do Chapecoense”, disse o dirigente, fazendo
comparações levianas e machistas.
Renan Santos, Kim Kataguiri e Fernando Holiday também
fizeram uma comparação com o partido Rede, da Marina Silva, e uma
melancia, que é verde por fora e vermelho “comunista” por dentro.
Disseram que não têm rabo preso com partido nenhum, apesar de terem se
aproximado do PMDB, do DEM e do PSDB para financiar seu grupo e seus
vereadores.
“Neste mês passado morreu uma figura histórica que,
convenhamos, tem uma relevância mundial. Mas eu nunca me senti tão
aliviado de uma figura dessas ter morrido. Fidel Castro se foi. Eu nunca
vou compactuar dos seus ideais, mesmo que parte da elite tenha apreço
pelo autoritarismo”, vociferou Holiday, que já foi preso ao manifestar seu ódio a Cuba na Câmara Municipal.
Com tantos discursos contra a corrupção e defendendo Moro ou
os militares, pergunteis para as pessoas presentes o que elas sabiam
sobre as 10 Medidas.
O casal José Antônio (53) e Derci Ribeiro (53) é veterano em
protestos contra os políticos em quem eles não acreditam mais. José
compareceu a três, enquanto sua companheira participa desde as Diretas
Já, quando era adolescente. Eles disseram que estavam lendo as 10
Medidas Contra a Corrupção e foram questionados se sabiam destacar as
principais.
“Principalmente a falta de punição para… epa, agora deu
branco…”, disse José Antônio. Derci Ribeiro deu uma risadinha e soltou:
“O que eles querem é calar o Sérgio Moro. O resto das medidas a gente
corta e outras a gente pode discutir, mas querer calar o Moro que tá
trazendo bilhões de volta ao Brasil é um erro”.
Quando perguntada sobre as objeções de Gilmar Mendes ao juiz
de Curitiba, Derci afirmou que está a favor de um país limpo e não de
nenhum tipo de partido. José também disse que não vê problemas ou
fascismo em restrição do habeas corpus, ideia entre as 10 Medidas que
foi criticada por juristas.
Regina, Vânia, Maggi e Helena disseram que também estavam
favoráveis ao combate à corrupção feito pelo Ministério Público e pelo
juiz Sérgio Moro. Foram em todos os protestos e estavam se manifestando
contra Renan Calheiros.
Quais das 10 Medidas Contra a Corrupção elas acham
importante? “Todas”, responderam. E elas sabem destacar alguma? As
quatro mulheres responderam: “Nenhuma”. E Regina completou afirmando
que “derrubando Renan, a corrupção acaba”.
Renato, um ciclista com um pôster contra a corrupção,
parecia ser o mais bem informado dos entrevistados, mas não destacou
nenhum ponto específico das 10 Medidas Contra a Corrupção.
Disse que discordava do Ministério Público na premiação a
delatores, no uso de provas ilegais e no teste de integridade aos
funcionários públicos. “Não fazia ideia que existia uma medida que
alterava o habeas corups, vou pesquisar mais detalhes”, completou.
“Eu estou na rua porque acredito no Brasil! Preciso estudar
melhor as 10 Medidas Contra a Corrupção do Sérgio Moro, mas a princípio
sou a favor. A presidência de Michel Temer precisa de mais tempo para
consertar este país”, disse Pauline Hemann, professora e advogada que
estranhamente não conhecia nada sobre a proposta de mudança nas leis.
João estava diante da estação Trianon-Masp colando post-it
com mensagens contra os políticos. Para ele, a melhor das 10 Medidas é
“a que combate a corrupção”. Não soube detalhar nada. Um amigo de João
disse que a culpa toda é de José Sarney. Ele não ficou para ser
entrevistado.
Um homem chamado Américo estava indo ao shopping Cidade São
Paulo. Esbarrou em uma mulher vestida com a camiseta da seleção
brasileira. “Saia daqui, seu petralha!”, ela berrou. Ele estava vestido
de branco e disse que apoiava o combate à corrupção. “Esse tipo de briga
sem sentido nos desune”.
Elias Siqueira, camelô, disse que queria conversar com o
prefeito eleito, João Doria. Estava com um lenço da Chapecoense e disse
que estava de luto pela morte do time. “Queria saber do Doria porque tem
muito camelô desempregado. Quero saber se, quando ele for assumir, ele
vai deixar essa gente na rua”. Perguntado sobre a corrupção, Elias disse
que é contra os corruptos, mas está mais preocupado com São Paulo. E
foi embora.
A Paulista foi liberada às 19h e os caminhões de som já estavam desmontados. A PM divulgou que 15 mil pessoas estiveram no protesto em São Paulo.
A avenida lotou próxima ao caminhão do Vem Pra Rua, mas
permaneceu mais vazia e esparsa no espaço dos militantes pró-ditadura e
mais ainda perto do MBL. Grupos também protestaram contra a decisão
recente do STF favorável a respeito do aborto para fetos de até três
meses.
Marcello Reis, do Revoltados ON LINE de bicicleta na Avenida
Paulista, mas saiu andando quando percebeu que estava sendo
fotografado.
Depois de gritar por Moro e pedir a volta dos militares, sem
explicar o que são as tais 10 Medidas, o povo coxinha de direita voltou
pra casa pra não perder o Faustão e o Fantástico, onde iriam aparecer.
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