quarta-feira, 24 de junho de 2015

Ao PSDB e PT: responsabilidade no debate público


Blog do Kennedy
O ex-primeiro-ministro da Espanha Felipe González disse anteontem em palestra no Instituto Lula que via com preocupação “sinais de intolerância” no Brasil. Ele está coberto de razão.
O alerta de González deveria sensibilizar petistas e tucanos, que aumentaram o tom do debate político. São ambas forças mais moderadas, de centro-esquerda em suas origens, e que foram responsáveis por vencer as eleições presidenciais no Brasil nos últimos 20 anos. Os dois partidos devem ter mais responsabilidade no debate público.
Felipe González é um dos principais líderes da social-democracia europeia. Esteve no poder durante quase 14 anos, entre 1982 e 1996. Tem boas relações tanto com o ex-presidente Lula como com o ex-presidente Fernando Henrique Cardoso. Conhece o PT e o PSDB.
O alerta de uma figura ponderada como González deveria ser ouvido por petistas e tucanos. Quem estimula a intolerância hoje pode ser vítima dela amanhã. O ex-premiê espanhol disse: “Fico preocupado porque o Brasil é um país de tolerância, de convivência”.
O PT precisa parar de ver inimigos na imprensa e na oposição. Os problemas econômicos do país foram criados no governo Dilma, pelo erro de dosagem nas chamadas políticas anticíclicas e pela tentativa de aplicar uma nova matriz macroeconômica que se revelou um desenvolvimentismo infantil que não desenvolveu.
E o ex-presidente Lula foi o maior cabo eleitoral de Dilma nas duas últimas eleições. Por isso, também tem sua parcela de responsabilidade e, ao criticar o governo Dilma, tem de levar isso em conta.
Já a oposição precisa se comportar como quem tem expectativa real de voltar ao poder. A última pesquisa do Datafolha mostrou que a crise do governo Dilma e do PT é grave. Há forte chance de fadiga de material em 2018. A oposição muitas vezes se confunde com grupelhos radicais e joga no quanto pior melhor.
Essa guerra entre PT e PSDB favorece radicais que não prezam a democracia e estimulam intolerância no país. Temos visto episódios preocupantes, como o apedrajamento de um menina que frequentava o candomblé no Rio de Janeiro.
A oposição deveria levar em conta que o país não acabará e precisará ser governado a partir de 2018. Por isso, moderação é algo que faria bem à oposição nesse momento.
Moderação também faria bem ao PT, que precisa discutir os seus erros, como cobrou ontem Lula num tom de autocrítica. Lula disse: “Temos que definir se queremos salvar a nossa pele e os nossos cargos ou se queremos salvar o nosso projeto”.

Governar o Brasil é uma tarefa complicada. “O Brasil não é para principiantes”, já ensinava uma frase atribuída ao Tom Jobim. PT e PSDB precisam ver se querem salvar a própria pele ou melhorar o Brasil

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