André Singer – Folha de S.Paulo
Às
vésperas das manifestações de 15 de março, o presidente do PSDB, Aécio
Neves, tomou posição democrática. Deixou claro que o impeachment não
estava na agenda do partido. Um mês depois, sem qualquer justificativa
razoável, muda de posição e adere à tese golpista. O objetivo parece
nítido: bloquear o governo, impedir que tenha um respiro e provocar a
sua queda.
Conforme
jurista de referência para o PSDB, Miguel Reale Jr., não há base
jurídica para o impedimento. Eis o que escreveu em "O Estado de S.
Paulo" (7/3/15): "A pena do impeachment visa a exonerar o presidente por
atos praticados no decorrer do mandato. Findo o exercício da
Presidência, não se pode retirar do cargo aquele cujo governo findou".
Nada do que ocorreu no primeiro mandato serve para interromper o atual.
O
próprio Aécio atestou a conhecida probidade de Dilma. "Acho que a
presidente da República é uma mulher honesta, uma mulher de bem. Não
faço nenhuma crítica a sua conduta pessoal. Acho apenas que ela está
despreparada para governar um país da complexidade do Brasil." (Valor
Online, 2/5/14).
Como
o impeachment é aplicável apenas em caso de envolvimento direto do
mandatário em crime de responsabilidade durante a gestão em curso,
precisaria ter surgido um fato novo e recente para dar legitimidade à
reviravolta de Aécio.
Na
terça-feira (14/4), Aécio disse que haveria motivo "extremamente forte"
para pedido de impeachment caso fosse comprovado que a CGU esperou o
fim da eleição de 2014 para processar a empresa SBM, sediada na Holanda.
No dia seguinte, o pretexto já era outro: a prisão do tesoureiro João
Vaccari. "Estamos vendo o agravamento da crise política e cada vez ela
chegando mais próxima do governo e da própria presidente da República",
disse ao "Jornal Nacional".
Na
quinta-feira (16/4), de acordo com os repórteres Dimmi Amora e Valdo
Cruz, surgia um terceiro assunto para o PSDB advogar o impeachment,
segundo Aécio. Se comprovada a participação da presidente em supostas
manobras fiscais impugnadas pelo TCU e relativas ao exercício de 2014 o
partido entraria com o pedido de abertura do processo de impeachment,
que caberá a Eduardo Cunha aceitar ou não.
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