Luiz de Queiroz
Patricia Faermann
Líderes de oposição receberam agitadores de protestos anti-governo para condenar a corrupção. Mas a ficha dos que esbravejam contra a ilegalidade e a falta de ética na política é intrigante
Jornal GGN – Lideranças de partidos de oposição ao governo receberam,
na quarta-feira (15), alguns dos agitadores dos protestos dos dias 15
de março e 12 de abril - entre eles, Rogério Chequer, do Vem Pra Rua.
Durante o encontro, figurões como Agripino Maia (DEM), Ronaldo Caiado
(DEM), Mendonça Filho (DEM), Paulinho da Força (SD), Aécio Neves (PSDB) e
Roberto Freire (PPS) tiveram a oportunidade de esbravejar contra os
casos de corrupção que desgastam o PT e a gestão Dilma Rousseff.
Chama atenção, entretanto, a ficha dos defensores da ética e do
combate indiscriminado à corrupção. Associação com o bicheiro Carlinhos
Cachoeira, prisão por fraudes e desvios em grandes obras, contas em
paraísos fiscais em nome de familiares, recebimento de propina, recursos
de campanha questionados na Justiça e até falsificação de documentos
para criação de partido fazem parte do histórico de acusações e dos
relacionamentos intrigantes que envolvem as estrelas políticas do
encontro em tela.
O GGN fez uma breve seleção:
1 - Aécio Neves (PSDB)
O neto de Tancredo Neves que construiu um aeroporto de R$ 14 milhões
no terreno do tio-avô já foi questionado na Justiça sobre o paradeiro de
mais de R$ 4 bilhões que deveriam ter sido injetados na saúde de Minas
Gerais. O caso Copasa contra
o ex-governador foi engavetado. Destino semelhante tiveram as menções a
Aécio na Lava Jato. O tucano foi citado por Alberto Youssef como
beneficiário de propina paga com recursos de Furnas. Para o
procurador-geral da República, isso não sustenta um inquérito. Rodrigo
Janot também cuida de outro escândalo que leva a Aécio, sob a
palavra-chave Liechtenstein (um
principado ao lado da Suíça). Investigando caso de lavagem de dinheiro,
procuradores do Rio de Janeiro chegaram a uma holding que estava em
nome da mãe, irmã, ex-mulher e filha do tucano. Esse inquérito está
parado desde 2010 na gaveta do Procurador Geral da República.
2- Agripino Maia (DEM)
Presidente do DEM, Agripino Maia foi dono das expressões mais
sugestivas de defesa da luta contra a corrupção. "Chegou a hora de
colocar o impeachment [de Dilma Rousseff]", disse no encontro com os
manifestantes anti-governo. O senador tem em seu currículo a acusação de
receber R$ 1 milhão em propina, em um esquema que envolvia a inspeção
de veículos no Rio Grande do Norte, entre 2008 e 2011. Coordenador da
campanha presidencial de Aécio, o democrata, em 2014, teve seu caso
arquivado no MPF pelo ex-procurador-geral da República Roberto Gurgel. Mas foi reaberto há sete meses por Janot, e agora está sendo investigado no Supremo Tribunal Federal (STF).
3- Ronaldo Caiado (DEM)
O senador Ronaldo Caiado (DEM) é associado ao bicheiro Carlinhos Cachoeira por
supostamente ter recebido verba ilícita nas campanhas de 2002, 2006 e
2010. Cachoeira foi denunciado por tráfico de influência e negociava
propinas para arrecadar fundos para disputas eleitorais. O bicheiro foi
preso em 2012 por operação da Polícia Federal que desbaratou esquema de
adulteração de máquinas caça-níquel. Caiado foi citado nesse contexto,
recentemente, por Demóstenes Torres. Ele teria participado de negociação
entre Cachoeira e um delegado aposentado que queria ampliar esquemas de
jogo ilegal. Até familiar do democrata já foi alvo de denúncia. O
pecuarista Antônio Ramos Caiado, tio de Caiado, está na lista suja do
trabalho escravo.
4- Roberto Freire (PPS)
Uma das principais acusações que pesam contra o presidente nacional popular-socialista é de envolvimento com o Mensalão do DEM.
A diretora comercial da empresa Uni Repro Serviços Tecnológicos, Nerci
Soares Bussamra, relatou que o partido praticava chantagem e pedia
propina para manter um contrato de R$ 19 milhões com a Secretaria de
Saúde do Distrito Federal, comandada pelo deputado Augusto Carvalho.
Freire teria sido beneficiado no esquema.
5- Paulinho da Força (SD)
O presidente do Solidariedade, segundo autoridades policiais, participou de esquema de desvio de recursos do BNDES.
Um inquérito foi aberto no STF para investigar o caso. Em 2014, a
Polícia Federal também indiciou a sogra e outras duas pessoas ligadas ao
deputado federal sob suspeita de falsificarem assinaturas para a
criação do Solidariedade. Gilmar Mendes conduzirá,
ainda, a apuração em torno da suposta comercialização de cartas
sindicais (uma espécie de autorizações do Ministério do Trabalho para a
criação de sindicatos) por Paulinho, dirigente da Força Sindical. Consta
nos registros que cada carta era vendida por R$ 150 mil.
6- Mendonça Filho (DEM)
Em fevereiro de 2014, Mendonça se envolveu em uma polêmica por querer indicar deputado acusado de duplo homicídio pelo
Supremo Tribunal Federal para presidir a Comissão de Segurança Pública e
Combate ao Crime Organizado. Julio Campos (DEM), ex-governador do Mato
Grosso, afirmou que Mendonça teria dito que a indicação era uma
"homenagem". O deputado federal de Pernambuco já foi preso pela Justiça
eleitoral sob acusação de fazer carreata no dia de votação, mas o STF
decidiu que não houve crime eleitoral. Um documento daOperação Castelo de Areia citava
contribuição suspeita de R$ 100 mil da Camargo Correa a Mendonça, para
sua tentativa de ser prefeito do Recife. Ele admitiu que recebeu R$ 300
mil da empresa, mas alega que foram doações dentro das conformidades.
7- Carlos Sampaio (PSDB)
O deputado mais votado da região de Campinas (SP) recebeu R$ 250 mil
de uma empreiteira envolvida no esquema de corrupção da Petrobras
investigado na Operação Lava Jato. Sua última campanha arrecadou,
oficialmente, R$ 3 milhões. Não há comprovação sobre a lisura da doação.
Sampaio, coordenador jurídico do PSDB e autor do pedido para que Aécio
fosse empossado no lugar de Dilma Rousseff, teve reprovada a sua prestação de contas referente às eleições para a Assembleia de São Paulo, em 1998, e às eleições municipais de Campinas, em 2008.
8- Luiz Penna (PV)
O presidente do PV também aparece um tanto escondido na fotografia.
Irregularidades já remetidas à prestações de contas do partido incluem
seu nome. Em 2006, por exemplo, boa parte dos R$ 37,8 mil gastos em
passagens aéres e R$ 76,8 mil com diárias de campanhas eleitorais foram atribuídos a José Luis Penna.
Na época, servidores do TSE apontaram ausência de documentos que
comprovassem os gastos e uso de notas frias, indicando empresas
fantasmas que teriam prestado os serviços. O corpo técnico do Tribunal
sugeriu a rejeição das contas do partido de 2004, 2005 e 2006. O
deputado federal respondeu a dois processos judiciais, um pelo TRE-SP, rejeitando a sua prestação de contas à eleição de 2006, e outra pelo TSE reprovando as contas do PV de 2004.
9- Flexa Ribeiro (PSDB)
O hoje senador já foi preso pela Polícia Federal em 2004, na Operação Pororoca,
por fraude em licitações de grandes obras realizadas no Amapá. Foi
acusado de corrupção ativa e passiva, formação de quadrilha, tráfico de
influência, peculato, prevaricação, usurpação de função pública e
inserção de dados falsos em sistema de informações.
10- Antonio Imbassahy (PSDB)
O
deputado federal tucano era prefeito de Salvador em 1999, quando
contratos suspeitos foram assinados com as empresas Andrade Gutierrez,
Camargo Corrêa e Siemens, que formavam o consórcio responsável pelo
metrô da capital baiana. O Ministério Público Federal investiga osuperfaturamento nas obras,
que gira em torno de R$ 166 milhões. Até agora, dois gestores indicados
por Imbassahy à época e duas empresas foram indiciadas. O tucano é o
vice-presidente da CPI da Petrobras, que investiga desvios de verbas da
estatal, onde diretores da Andrade Gutierrez e Camargo Corrêa também
aparecem como réus. Imbassahy foi acusado pelo PT de se aproveitar do
posto na CPI para pedir documentos à Petrobras e vazar para a imprensa.
11- Beto Albuquerque (PSB)
Ex-colaborador do governo Tarso Genro (PT) no Rio Grande do Sul, Beto
Albuquerque (PSB) foi envolvido na intriga que rendeu a queda do então
diretor-geral do Departamento de Autônomo de Estradas de Rodagem (Daer)
José Francisco Thormann. Thormann se antecipou a uma demissão após a
imprensa local ter revelado que ele viajou à Suiça às custas de uma
empresa privada subcontratada para fazer obras no Estado. Em nota de defesa,
Thormann afastou suspeitas sobre o fato, e revelou que Beto
Albuquerque, quando secretário de Infraestrutura do Estado, também fez
viagens ao exterior bancadas por empresas que detinham contratos com o
poder público. Quando a notícia surgiu, Beto já não era secretário -
tinha deixado a gestão petista para reforçar a bancada do PSB na Câmara
Federal.
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