terça-feira, 21 de abril de 2015

Brasil precisa olhar para frente

Texto de de Benjamin Steinbruch, Dono da Companhia Siderúrgica Nacional (CSN),

Poderia fazer um longo texto descrevendo as mazelas do setor industrial, que apresentou uma queda de produção acumulada de 4,5% nos 12 meses encerrados em fevereiro. Ou lembrar que a economia como um todo, medida pelo índice IBC-Br, do Banco Central, teve uma retração de 3,16% em fevereiro na comparação com o mesmo mês do ano passado. Mas isso é o passado. O Brasil e os brasileiros estão precisando olhar para a frente.
Há motivos para esperar que as condições da economia brasileira melhorem significativamente a partir do terceiro e quarto trimestres pelas razões que enumero a seguir.
O ajuste fiscal está em andamento, e, a esta altura, é muito difícil encontrar alguém que levante dúvidas sobre a disposição do ministro da Fazenda, Joaquim Levy, de levar adiante seu programa nessa área. A inflação, embora ainda alta, tende a recuar com a diluição do impacto do aumento de tarifas públicas. O câmbio mantém uma trajetória benigna, nem tão desvalorizado para complicar a política anti-inflacionária nem tão valorizado a ponto de prejudicar a atividade exportadora.
No mercado financeiro, um olhar atento para a frente revela que a Petrobras, empresa importantíssima para a atividade econômica do país, tem tudo para sair de seu inferno astral. Com a expectativa da publicação do balanço auditado amanhã ou nos próximos dias, as cotações de suas ações já subiram significativamente, ao mesmo tempo em que analistas voltam a recomendar a compra de bônus externos da empresa.
Olhando para a frente, portanto, é obrigatório observar que o efeito Petrobras, que pressionou a economia para baixo nos últimos meses, vai agora impulsioná-la no sentido contrário, com a reativação de investimentos paralisados pela crise da Operação Lava Jato. Desde que assumiu a atual diretoria, em fevereiro, a estatal já fechou a contratação de financiamentos internos e externos de quase R$ 30 bilhões, que lhe garantem os recursos necessários para a operação deste ano.
Joga a favor da melhoria das condições da economia brasileira o momento de farta liquidez internacional com juros baixos, o que reduz eventuais preocupações das empresas com o financiamento de suas operações.
Estatísticas do BC mostram, por exemplo, que, a despeito das turbulências locais, a taxa de rolagem de financiamentos externos das empresas atingiu 106% em fevereiro. Na prática, as companhias têm conseguido captar mais que o necessário para arcar com os vencimentos de suas dívidas externas.
Outro fato favorável é a firme recuperação da economia americana, tendência realçada na reunião de primavera do FMI, no fim de semana passado. O crescimento dos EUA pode ter impacto importante nas exportações brasileiras de manufaturados, como já se constata nas estatísticas de comércio exterior entre os dois países.
Na área internacional, há ainda o fator China. Acabou, pelo menos por enquanto, o tempo do tradicional ritmo chinês de dois dígitos, mas a economia do gigante asiático continuará com certeza crescendo a uma taxa de pelo menos 7% ao ano. Garantia explícita sobre isso foi dada pelo próprio primeiro-ministro chinês, Li Keqiang.
Em uma incomum entrevista à imprensa internacional, ele passou a mensagem de que a China vai manter seus compromissos para manutenção da ordem mundial. E prometeu trabalhar com outros países para aquecer a economia global. Dado o alto grau de controle governamental sobre a economia chinesa, declarações como essa servem para afastar possíveis previsões sobre um desaquecimento ainda maior da atividade na China.
Por último, é bom lembrar que o Brasil, embora viva sua crise de confiança, mantém um enorme mercado consumidor, que pode ser estimulado. Pela lógica, a melhora das contas públicas, por meio do ajuste fiscal, deve dar ânimo ao BC para abrandar o arrocho monetário e reduzir juros. Ao mesmo tempo, uma nova política de investimentos em infraestrutura, principalmente por meio de concessões públicas, e medidas destinadas a devolver competitividade à indústria podem jogar adrenalina na economia.

É o que se espera, para que o impacto do atual momento de crise não atinja ainda mais o emprego nem ameace os ganhos sociais obtidos a duras penas nos últimos anos.

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