Por Miguel do Rosário, especial para o Tijolaço
Organizei, para o leitor, os documentos que contêm a íntegra da delação premiada de Pedro Barusco.
O primeiro documento traz detalhes sobre as cláusulas legais do entendimento entre o Ministério Público e o réu.
A advogada é a onipresente Beatriz Catta Preta. A mesma que negociou
acordos semelhantes para Paulo Roberto Costa e para Julio Camargo. Pode
não ser nada, mas não é um bom sinal, porque sinaliza uma ação
“combinada”.
O segundo documento traz todas as provas apresentadas pelo réu: tabelas, notebook, folhas com anotações.
O terceiro documento passa a ser numerado, é o Termo de Colaboração
número 1. É aí que vem as tabelas, entre elas, as que trazem siglas e
seus significados, segundo Barusco.
São bem estranhas.
1) My Way refere-se à música de Frank Sinatra, My Way. Corresponde a Renato Duque, ex-diretor de serviços da Petrobrás.
2) Mars corresponde a marshal (marechal em inglês): é usada para João Ferraz. Não explica o porque do nome.
3) Sab é Sabrina, e refere-se a ele mesmo, Pedro Barusco, que tinha uma namorada com esse nome.
4) MZP é Muzamba, e refere-se a Eduardo Musa. Não explica o porque do nome.
5) Por fim, a sigla que provocou a bomba na imprensa: MOCH, de
mochila, que correspondia, segundo Barusco, ao tesoureiro do PT, João
Vaccari Neto, porque ele sempre andava de mochila.
Daí seguem os Termos de Colaboração 2,3,4,5,6 e 7.
A coisa é bem absurda, porque o PT seria o único partido do mundo a
organizar, quase que abertamente, propinas para o partido
político enquanto partido. Uma espécie de “apropriação revolucionária”.
Digo quase que abertamente porque Barusco diz, com toda a
desenvoltura, que Vaccari recebia “em nome do PT”. Repete isso várias
vezes em seu depoimento, como que instigado pelos interrogadores.
Em geral, propinas são destinadas para o enriquecimento ilícito do
corrupto, como era o caso de todos os valores denunciados por Barusco,
inclusive, e principalmente, para ele mesmo.
Essa é a corrupção “do bem”, uma corrupção privada, conforme explicou
um colunista da Globo. A corrupção do PT é “do mal” justamente porque
se destina a um partido.
Mas aí não é preciso provas. Basta um delator.
Barusco afirma não saber como o pagamento era feito a Vaccari, nem
apresentou nenhuma prova, nenhum documento que contenha qualquer
transferência, no exterior ou no Brasil.
Para todas as outras propinas, o réu dá detalhes, sobretudo para as
pagas a Renato Duque, seu superior. Barusco diz que recebia propinas em
nome de Duque no exterior, e o pagava em cash, dentro da empresa, de 30 a
50 mil por mês.
No termo 3, à página 4, Barusco faz ainda uma revelação intrigante: a de um cartel de empresas internacionais.
Quer dizer, antes das regras que impõem conteúdo nacional, havia,
segundo Barusco, uma espécie de “cartel”, e que “toda a iniciativa no
mercado nacional era repelida”.
Isso se dá, evidentemente, antes dos governos Lula, que introduziu as
regras para conteúdo nacional assim que assumiu. É interessante porque
sinaliza duas coisas gravíssimas: 1) o pagamento de propinas de um
cartel, para agentes públicos, 2) com objetivo de paralisar o
desenvolvimento de qualquer tecnologia nacional.
Outro trecho do depoimento de Barusco que não mereceu destaque nos 20
minutos que o Jornal Nacional dedicou ao assunto fala das origens da
corrupção na Petrobrás.
Observe bem o que diz Barusco: “(…) o pagamento das propinas também
perdurou por longos anos, enquanto o declarante ocupou o cargo de
Gerente de Tecnologia de Instalações entre 1995 a 2003.”
É impressionante que um sujeito que passou a vida inteira roubando
possa agora posar de heroi da mídia, ficar livre, leve e solto, após
delatar, sem provas, um partido político.
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