Agora que Barbosa se tornou uma espécie de vergonha nacional junto a pessoas minimamente esclarecidas, alguns jornalistas da Globo tentam, quase desesperadamente, encontrar um posicionamento que justifique o apoio do jornal a uma figura tão nefasta
(originalmente publicado no Cafezinho)
Agora que Barbosa se tornou uma espécie de vergonha nacional junto a
pessoas minimamente esclarecidas, alguns jornalistas da Globo tentam,
quase desesperadamente, encontrar um posicionamento que justifique o
apoio do jornal a uma figura tão nefasta, sem cair no ridículo de não
enxergar seus vícios.
Agora foi a vez do Arthur Dapieve, um colunista pacato do segundo caderno, que raramente escreve sobre política. Em sua última coluna, intitulada Barbosa, ele faz um tremendo exercício retórico para expor afirmações surpreendentes sobre Barbosa.
Antes, ele faz alguns elogios vagos ao ministro, como o clichê
tipicamente global de que ele quebrou um “tabu brasileiro – político
poderoso não vai pra cadeia”. Esse clichê foi explorado como um mote de
marketing do jornal para forçar o STF a condenar políticos mesmo sem
provas, porque era preciso de mostrar ao Brasil que “político vai pra
cadeia”.
Incrível como, subitamente, um monte de gente aderiu ao mais vulgar e
idiota populismo judicial. Está lá Genoíno preso, sob risco terrível de
vida, para quebrar um “tabu”. Dirceu foi condenado pelo “domínio do
fato” para “quebrar um tabu”…
Entretanto, os elogios a Barbosa são quase pró-forma, uma concessão
que o jornalista fez a seus patrões, visto que não imagino que alguém,
dentro do Globo, possa se posicionar de maneira direta e clara contra
Joaquim Barbosa. Para criticá-lo, é preciso ter “sentimentos
misturados”.
Quem sou eu para julgar Dapieve? Entendo perfeitamente a situação dos
oprimidos de um grande jornal. Se eu estivesse em seu lugar, talvez
agisse rigorosamente da mesma maneira.
(…) tenho sentimentos misturados em relação a Joaquim Barbosa.
Admiração e medo. Ele próprio tem fantasmas a encarar, agora que
antecipou em dez anos a sua aposentadoria do STF. Do mesmo modo que
acredito plenamente que Barbosa e sua família tenham sido ameaçados de
morte pelas tropas de choque petistas (antagonizadas no Brasil
contemporâneo pelas claques antipetistas, quanta pobreza), não acredito
que ele seja homem de se amedrontar assim. Se fosse, não teria agido
como agiu no Mensalão do PT. A pressão só chegou agora? Tem caroço nesse
angu.
O caroço no angu é simples, Arthur. O Globo mentiu. A troco de que
você acredita “plenamente que Barbosa e sua família tenham sido
ameaçados de morte pelas tropas de choque petistas”.
Tropa de choque petistas? Essa expressão pertence a fanáticos
mitônomos, como aqueles da Veja, não de um cronista pacato como você,
caro Arthur. A referência a “claques antipetistas” apenas disfarça a
expressão infeliz com uma falsa simetria. A polarização entre PT e PSDB é
braba, mas é democrática, pacífica e talvez necessária. Não existe
nenhuma tropa de choque, em nenhum dos lados, ameaçando ninguém.
O próprio Barbosa negou, categoricamente, as ameaças, que ele, como juiz, teria obrigação de denunciar, não?
(…) Lewandowski foi quem mais sofreu com as grosserias de Barbosa
na Ação Penal 470. Nos frequentes, longos e constrangedores bate-bocas
entre os dois, o ministro em vias de se aposentar mostrou uma faceta
assustadora, intolerante, até mesmo antidemocrática.
A bem da verdade, Arthur, não houve bate boca, e sim um festival de
grosserias unilaterais por parte de Barbosa. Que fez a mesma coisa com o
novo ministro, Luis Barroso.
É interessante, porém, que você tenha detectado a faceta assustadora,
intolerante e antidemocrática de Barbosa e mesmo assim ainda tenha
“admiração” por ele.
Muita gente tinha os mesmos “sentimentos misturados” em relação a ditadura militar.
Admiração e medo.
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