Esfolando os doentes...
Não faz muito
tempo, este colunista publicou no Observatório da Imprensa uma série de
casos de mau atendimento a clientes por seus planos de saúde. O
colunista Elio Gaspari, insistentemente e com grande brilho, vem
mostrando como é que o sistema privado suga verbas da saúde pública. O
jornalista Ricardo Kotscho conta o seu caso, recentíssimo: quebrou o
braço num acidente, fez uma operação de seis horas, gastou R$ 36 mil e
teve reembolso de R$ 1.575,00 (a propósito, é cliente antigo do
seguro-saúde).
Qual a força que têm as empresas para atender tão mal e ficar sempre livres de problemas?
...e retribuindo aos amigos - Uma
boa pista sobre a impunidade de quem atende mal aos doentes acaba de
aparecer na Câmara: numa Medida Provisória que trata de tributação de
empresas brasileiras no Exterior, nobres deputados enxertaram algo que
não tem nada a ver com isso, com o objetivo de reduzir as multas que os
maus planos de saúde eventualmente venham a sofrer. Se um plano de saúde
cometer de duas a 50 infrações e for multado por elas, pagará apenas
duas multas. Acima de mil multas, pagará vinte.
Traduzindo em
reais: se uma operadora negar uma cirurgia legítima, pode ser multada
em R$ 80 mil. Se for multada 50 vezes, a conta será de R$ 4 milhões.
Será, não: seria. Pela Medida Provisória, cai para R$ 160 mil. Se houver
mil multas, em vez de R$ 80 milhões a má operadora pagará R$ 1,6 milhão
e fica por isso mesmo. Atender mal aos clientes vira um negócio ainda
melhor.
A Medida
Provisória foi aprovada na Câmara (sendo relator o deputado Eduardo
Cunha, do PMDB fluminense) e vai agora ao Senado. A grita dos meios de
comunicação, mais alguma pressão dos eleitores, talvez derrube o
absurdo.
Mas ainda
restará algo a resolver: de janeiro a agosto do ano passado, as
operadoras de planos de saúde pagaram apenas 20,7% das multas que
sofreram.
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