Por Noelia Brito, procuradora do Município do Recife, publicado no Blog de Jamildo
Alguns especialistas em campanhas
eleitorais têm apregoado que em 2014, o mote das eleições será a
competência gerencial, ou seja, o que deverá ser explorado pelos
marqueteiros será a capacidade de cada candidato como administrador, daí
porque, a opção por candidaturas tidas como técnicas tem sido a
preferência dos idólatras da chamada “nova política”, pautada na
meritocracia.
Essa tática de relegar o elemento
político a um segundo plano, valorizando, pelo menos no que concerne aos
cargos executivos, as chamadas candidaturas técnicas, decorre da
verdadeira ojeriza que o povo tem desenvolvido pela classe política,
pelos políticos carreiristas, por aqueles que fazem da política
profissão e dos cargos públicos, capitanias hereditárias.
É claro que isso não passa de uma
tática, de um disfarce, pois apadrinhando essas candidaturas ditas
“técnicas”, sempre há o dono de um feudo político centenário ou um grupo
de plutocratas, de quem o tal candidato “técnico” apenas representa os
interesses.
Os candidatos técnicos ou meritocratas
costumam ter seus pequenos feitos gerenciais elevados à décima potência
pelo marketing contratado por seus padrinhos políticos, muitas vezes até
surrupiando feitos de subordinados.
Entretanto, o caminho inverso também
pode ser utilizado pelos adversários para minar a credibilidade do
candidato “técnico”, já que a vida é uma via de mão dupla e na política,
principalmente na política, uma ação dificilmente fica sem a
correspondente reação.
Um candidato muito técnico pode ser
criticado por sua falta de traquejo político. Essa crítica tem sido
recorrente, por exemplo, contra a presidenta Dilma e o mais interessante
é que essas críticas partem justamente de opositores que têm lançado
mão de candidatos técnicos, por apregoarem a necessidade de uma nova
política, sem a interferência das velhas raposas felpudas que contaminam
nossa República.
Se o candidato técnico já desempenhou
cargos menores e cargos de grande relevância, qualquer deslize, mesmo
que não lhe possam ser imputados, mas a seus superiores ou subordinados
ou colegas, passarão a ser de sua inteira responsabilidade, pois é isso
que interessa ao adversário. Vejamos o caso, por exemplo, da compra da
Refinaria de Pasadena, em que também a presidenta Dilma está sendo
questionada como gestora, depois de quase quatro anos de seu governo
como dirigente máxima da nação, à frente de um orçamento trilhonário,
por uma decisão ocorrida em 2006, portanto, no governo Lula, decisão
tomada, não por ela, mas por um Conselho, por um órgão colegiado do qual
ela fazia parte, é verdade, juntamente com o presidente do grupo
Editora Abril e do Grupo Gerdau, apenas para citar dois empresários que
pautam o pensamento econômico e até governos, como o de Pernambuco, na
gestão Eduardo Campos e Minas Gerais, na gestão Aécio Neves, decisão que
se deu, segundo afirmam, com base em pareceres de diretores da
Petrobras e de instituições financeiras internacionais, como o Citibank.
A oposição, capitaneada por Aécio e Eduardo acusam Dilma de ter
responsabilidade na compra de uma refinaria que teria resultado em
prejuízo de R$ 1 bilhão para a estatal.
É claro que nenhum dos dois questiona
Jorge Gerdau, criador dos modelos de gestão de Eduardo Campos e Aécio
Neves, quando governadores de seus Estados, nem Fábio Barbosa, da
Editora Abril, pois nenhum dos dois são candidatos à presidência, apesar
de manifestarem claramente suas preferências. O primeiro, Gerdau, apoia
Eduardo Campos e o segundo, Barbosa, é cabo eleitoral de Aécio Neves.
Questiona-se Dilma, que apesar de na época ser apenas uma das
integrantes do Conselho, com os mesmos poderes de voto e veto que Jorge
Gerdau e Fábio Barbosa, hoje é candidata à reeleição, líder nas
pesquisas e, portanto, a candidata a ser derrotada, desmoralizada e
desconstruída como gestora.
Nesse diapasão e considerando que os
modelos de gestão tanto de Eduardo Campos, em Pernambuco, quanto de
Aécio Neves, em Minas Gerais, foram implantados pelo chamado Movimento
Brasil Competitivo, do competente empresário e meritocrata convicto
Jorge Gerdau, que como membro do Conselho Administrativo da Petrobras
aprovou a compra da Refinaria de Pasadena, entre outros negócios da
estatal, será que poderemos considerar que foi esse modelo o responsável
pelo caos na Saúde observado tanto em Minas Gerais quanto em Pernambuco
e pela compra da refinaria em Pasadena ou será coincidência demais? Ah,
é verdade, sobre Pasadena não há como responsabilizar Gerdau, pois como
ele mesmo revelou, juntamente com Fábio Barbosa, eles foram induzidos a
erro por pareceres fraudados e omissos laborados por diretores da
Petrobras, um dos quais, Paulo Roberto Costa está, inclusive, preso. Mas
os dois, Gerdau e Barbosa, corroboraram as declarações de Dilma sobre
os tais pareceres e sobre as recomendações do Citibank. Se é assim,
então porque Eduardo Campos e Aécio Neves não pedem investigação também
contra seus patronos de campanha?
Mais uma vez temos que lembrar desse
detalhe de fundamental importância. Nem Gerdau, nem Barbosa são
candidatos a serem abatidos, muito pelo contrário, são aliados. Mas essa
tal meritocracia é mesmo uma armadilha, porque se os meritocratas
Eduardo e Aécio acham que podem se dar ao luxo de escolher em quem
imputar uma culpa que, em princípio é solidária, a meritocracia,
solidariamente, vai desmascarando todos que ousam utilizar seu santo
nome em vão. Senão vejamos:
Em Minas Gerais, Aécio Neves cometeu uma
fraude contábil registrando em sua prestação de contas, gastos de R$
3,5 bilhões, entre os anos de 2003 e 2008, em saneamento, como se fossem
gastos com a saúde. A isso deve-se chamar excelência gerencial nos
moldes do PSDB. Uma ação civil pública chegou a ser ajuizada
questionando a má gestão de Aécio Neves na saúde.
Em Pernambuco, no último dia 03 de
abril, veio à tona uma liminar do Juiz da 5ª Vara da Fazenda Pública,
Edvaldo Palmeira, prolatada na Ação Civil pública nº
0019133-89.2014.8.17.0001, revelando que o governo Eduardo gastou entre
2013 e 2014 mais de meio bilhão de reais com despesas não essenciais e
com publicidade, enquanto mais de 6 mil pacientes aguardavam em filas
por cirurgias em hospitais do Estado ou conveniados, alguns desses
pacientes, inclusive, segundo menciona Dr. Edvaldo Palmeira, em sua
decisão, chegaram a óbito durante a espera.
Segundo levantamentos feitos pelo
Ministério Público de Pernambuco e que deram subsídios para que a
Justiça mandasse o governo do Estado apresentar não só a lista com todos
os milhares de pacientes que aguardam nas filas de espera por
cirurgias, mas que organizasse imediatamente um cronograma para a
realização dessas cirurgias, dentre os gastos desnecessários feitos pelo
governo Eduardo Campos, em prejuízo da saúde do povo pernambucano
estava a compra de bolo de rolo, arranjos florais, o monitoramento de
redes sociais, o aluguel de veículos de luxo e o repasse de R$ 228
milhões para prefeitos do interior, através do FEM – Fundo Estadual de
Apoio ao Desenvolvimento Municipal, cuja previsão, para 2014, é de R$
241 milhões. Só com publicidade, de acordo com a liminar, Eduardo Campos
terá gasto entre 2013 e 2014 nada menos que R$ 168 milhões, já que
resolveu onerar as contas publicitárias, em ano eleitoral, em cerca de
42,9%, passando de R$ 68 milhões em 2013, para R$ 100 milhões, em 2014.
Se analisarmos apenas sob a ótima dos
meritocratas, perceberemos que os acusadores têm telhado de vidro e com
muitas fissuras, pois sob seus governos sua incompetência gerencial, em
área essencial para a população, que é a saúde pública, demonstrou mais
que incompetência, beirou o descaso e a desumanidade. Não foi só
dinheiro que foi desperdiçado. Vidas foram perdidas porque esses
gestores fizeram a escolha errada na hora de aplicar o dinheiro do
contribuinte. No caso de Eduardo Campos, preferiu gastar com bolo de
rolo em vez de leitos em hospitais públicos. Eduardo Campos gastou uma
fortuna para enganar o povo pernambucano com ficção criada por
marqueteiros, fingindo uma excelência em gestão que jamais teve,
enquanto esse mesmo povo padecia e até morria em filas de hospitais.
Eduardo Campos escolheu distribuir dinheiro para prefeitos que não
fizeram o dever de casa na arrecadação de receitas próprias e que foram
prejudicados pelo próprio Eduardo com os excessivos benefícios fiscais
que distribuiu a multinacionais.
Mas Aécio e Eduardo não eram apenas
membros de Conselhos Administrativos com direito a voto em condição de
paridade com outros conselheiros e nem, muito menos, foram ludibriados
por pareceres fraudados, eles foram os responsáveis diretos pelas ordens
que ocasionaram a fraude contábil, no caso de Aécio e os desvios de
finalidades nos gastos dos recursos públicos que resultaram até em
mortes, conforme se vê na decisão liminar do Juiz da 5ª Vara da Fazenda
Pública., no caso de Eduardo. Também por essas fraudes e mortes, parece
que nem Jorge Gerdau nem Fábio Barbosa poderão ser responsabilizados.
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