Heitor Scalambrini Costa
Professor da Universidade Federal de Pernambuco
O Painel Intergovernamental sobre
Mudanças Climáticas (IPCC, da sigla em inglês) foi criado em 1988 pela
Organização das Nações Unidas (ONU) e pela Organização Metereológica Mundial
(OMM), e se tornou uma das referências mais citadas nas discussões sobre
mudança climática. Em 2007, o IPCC dividiu o premio Nobel da Paz com o
ex-vice-presidente americano, Al Gore, pelo trabalho de ambos na
conscientização da comunidade e das lideranças mundiais para o problema e as
consequências da mudança climática.
O IPCC é um órgão composto por
delegações de 130 governos para prover avaliações regulares sobre a mudança
climática global. Sua criação se deu devido à percepção de que a ação humana
poderia estar exercendo uma forte influência sobre o clima do planeta,
sobretudo através da emissão de gases – como o dióxido de carbono (CO2), óxido
nitroso (N2O) e metano (CH4), que causam o efeito estufa. Desde então, o IPCC
tem publicado diversos documentos e pareceres técnicos.
Sem duvida, é um órgão que sofre
pressões políticas – ingenuidade seria pensar o contrário. A pressão é mais
percebida nos textos destinados aos formuladores de políticas públicas,
enviados pelos países que são os maiores poluidores do planeta, e que detêm
maior poderio econômico-militar. Todavia o IPCC procura manter o seu perfil
científico.
Como não existe infalibilidade
nas ciências, em particular em um tema de tal complexidade científica, como a
da interpretação dos fenômenos climáticos e sua correlação causa-efeito,
algumas das previsões mais alarmistas do IPCC, no passado, contribuíram para
certo desgaste de sua reputação e prestígio. Como foi o caso das previsões, em
2007, do desaparecimento das geleiras do Himalaia. O IPCC aprendeu e, por sua
vez, passou a adotar critérios mais exigentes para as asserções e previsões
incluídas em seus relatórios e pareceres.
Lamentavelmente uma minoria
(minoria mesmo) de técnicos, cientistas, políticos, com interesses escusos, tenta
enxovalhar o trabalho do IPCC. Assim, causando danos não apenas ao IPCC, mas
aos moradores do planeta Terra, visto que as questões levantadas
(cientificamente duvidosas) acabam postergando as medidas de políticas públicas
que precisam ser adotadas com urgência pelos governantes. O que pode ser um
erro fatal para o planeta – erro causado por esses que maculam o trabalho do
IPCC.
Na historia recente da
humanidade, temos exemplos de graves danos à vida humana causados pela
intervenção de ditos “cientistas”. O exemplo mais contundente foi a “polêmica”
provocada na segunda metade do século passado com relação ao cigarro provocar
ou não o câncer. Dúvidas “plantadas” por lobbies
poderosos (através desses “cientistas”) sobre a relação de causa-efeito
atrasaram a tomada de medidas concretas contra o cigarro – medidas que poderiam
ter evitado a morte de milhões de pessoas em todo o mundo.
Por outro lado, exemplos mostram
que podemos tomar decisões coletivas para preservar o planeta. O Protocolo de
Montreal é um bom exemplo. Este tratado mundial, assinado em 1987, levou ao
banimento dos clorofluorcarbonos
(usados então nos compressores de geladeiras residenciais em todo o mundo), que
reduzem a camada de ozônio e agravam para os seres humanos as consequências das
radiações ultravioletas, causa principal do câncer de pele. O tratado também
impediu uma maior concentração de poluentes na atmosfera e mudanças climáticas
ainda mais graves.
Não se pode desmerecer o papel do
IPCC e a repercussão de suas conclusões, as quais definitivamente colocaram a
discussão da mudança climática entre as grandes questões mundiais e um dos
principais temas da agenda política em diversos países.
A polêmica e a crítica são boas e
necessárias. O que deve ser repudiado são as tentativas de desqualificar esse
órgão de fundamental importância para a compreensão das mudanças no clima e
para a tomada de decisões urgentes que assegurem que a vida continue no planeta
como a conhecemos... Pois assim queremos que continue!
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