A Zona da Mata de
Pernambuco amanhece, nesta segunda-feira, 31/03, com mobilizações e
bloqueios de BRs realizados por mais de dois mil trabalhadores e
trabalhadoras rurais da região. Neste momento, eles bloqueiam os trechos
da BR 101 Sul, na altura da Fábrica da Vitarella; da BR 101 Norte,
próximo à Usina Maravilha, em Goiana; e da BR 232, em frente ao Parque
Aquático, em Moreno. Além desses trancamentos, está acontecendo um ato
na praça do Derby, no Recife, com distribuição de toneladas de alimentos
produzidos pela agricultura camponesa e panfletagem.
As mobilizações são organizadas por diversos movimentos e organizações sociais e sindicais que atuam luta pela terra e por condições mais dignas de vida para a população que mora e trabalha no campo. São elas: FETAPE, CPT, MST, Sindicatos de Trabalhadores e Trabalhadoras Rurais da Zona da Mata, Contag, CUT, CTB, Sabiá, Serta, Fase, Centro Josué de Castro, LecGeo/UFPE, ICN, Assocene, Coopagel, Coopag e Centro das Mulheres do Cabo.
Os trabalhadores e
trabalhadoras rurais reivindicam uma série de medidas emergenciais e
estruturantes para a região, no que diz respeito à permanência e acesso à
terra e ao território; assalariamento rural; sistema produtivo,
agroecologia, segurança e soberania alimentar; e políticas públicas e
projetos/programas sociais.
As cobranças encontram-se no documento “Diretrizes para reestruturação socioprodutiva da Zona da Mata ”,
elaborado pelas organizações sociais do campo e entregue em agosto de
2013 aos governos Estadual e Federal. São 85 propostas em contraposição
ao modelo de desenvolvimento excludente e injusto vigente na região.
Porém, passados sete meses da entrega do documento, nenhuma medida foi
anunciada pelos órgãos estatais.
Além das propostas, as organizações denunciam o atual contexto de violação de direitos em que vive a população do campo na Zona da Mata. A região canavieira tem passado por profundas mudanças nas suas bases produtivas, onde o monocultivo da cana-de-açúcar passa a dividir espaço com o investimento e a instalação de grandes empreendimentos industriais. No entanto, denunciam os movimentos sindicais e organizações sociais que atuam na região, que este novo cenário tem aumentado as dívidas sociais históricas que deixam profundas marcas para as famílias que vivem no campo.
Mesmo com mudanças em suas bases produtivas, a estrutura fundiária na região permanece intocada. A ausência de medidas que visem modificar os índices de concentração de terras, - um dos mais altos do país - condena a população do campo a viver em situações alarmantes de conflitos agrários ou em condições desumanas nas periferias dos municípios. A Zona da Mata também possui municípios com alguns dos piores Índices de Desenvolvimento Humano de Pernambuco e do Brasil, além de ostentarem altos índices de analfabetismo. Segundo dados do IBGE, 17,6% da população da região ainda vivem em situação de extrema pobreza e cerca de 50% das famílias dependem de programas de transferência de renda para sobreviver.
Para os movimentos e organizações sociais, a mobilização tem o objetivo de denunciar que este modelo de desenvolvimento não resolve esses históricos problemas, e de apontar a Reforma Agrária e a defesa dos territórios camponeses como proposta concreta para enfrentar os principais desafios e o combate à fome, tão presente na Zona da Mata. As organizações também denunciam a situação de degradação ambiental na região com o uso de agrotóxicos que contaminam os solos, as fontes de água e os alimentos, gerando diversos problemas de saúde na população rural e urbana; e, o contínuo desmatamento da Mata Atlântica, que ocasiona a perda da biodiversidade, fatores ambientais que levam a população urbana e rural a enfrentar ciclicamente os desastres ambientais como as grandes enchentes e estiagens prolongadas.
As mobilizações realizadas pelas organizações
sociais do campo neste dia 31 de março também homenageiam os milhares de
camponeses e trabalhadores rurais que lutaram aguerridamente contra a
ditadura militar. As organizações e lideranças camponesas que faziam a
defesa da Reforma Agrária e dos direitos humanos foram massacradas com o
Golpe. Durante esse período sangrento da história, foram assassinados
cerca de 1.200 trabalhadores rurais, camponeses e camponesas.
Passados 50 anos, a
população do campo ainda vive sob a herança do Golpe Militar e sonha
com a democratização das terras. O modelo de desenvolvimento imposto
pela Ditadura para o campo ainda permanece inalterado e os movimentos
sociais de luta pela terra continuam sendo insistentemente
criminalizados por levantarem a bandeira da Reforma Agrária. O avanço do
capital no campo e o fortalecimento do latifúndio, por meio da entrada
de maquinários modernos e agrotóxicos é o modelo ditatorial que
permanece vigente e que, nos dias de hoje, ainda exila milhares de
camponeses e trabalhadores rurais em seu próprio estado.
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