Por Michel Zaidan Filho
O repórter de um veiculo de comunicação exibiu trechos do
pronunciamento dos integrantes da chapa “Verde-encarnada”, para que
fossem comentados por mim, numa entrevista ao vivo, logo depois do
lançamento dessa chapa. 0 que mais chama atenção nesse discurso – para
eleitores e ouvintes desavisados – é como um todo um legado de politicas
de desenvolvimento regional integrada, cujo foco era povo e nação, foi
torcido e retorcido pelos candidatos em função das novas conveniências
políticas da hora.
Desde que retornou do exílio forçado a que foi submetido pela
Ditadura Militar, o ex-governador Miguel Arraes de Alencar sempre esteve
no lado oposto aos presidentes civis que assumiram o governo do país.
Sarney, Collor, Itamar e Fernando Henrique Cardozo trataram a “pão e
água” a gestão do velho Arraes, patrocinando e prestigiando seus
adversários políticos em Pernambuco.
Enquanto o ex-governador amargava uma solidão federativa, por se opor
a “Nova Política” de Collor, Itamar e Fernando Henrique, procurou em
vão, fora do Brasil, parcerias para o desenvolvimento de seu projetos
sociais.
O cerne dessa oposição é bem conhecido: sua recusa às políticas de
desregionalização da economia, em prol de uma “uma integração
competitiva” do país na globalização dos mercados. Arraes defendeu até o
fim a necessidade dessas políticas de desenvolvimento regional
integrado, contrapondo-se assim à chamada “guerra fiscal” e a destruição
do pacto federativo. Pagou caro pela sua coerência.
E aí vem o neto e renegando o legado do avô, dizendo-se admirador de Itamar e Fernando Henrique Cardozo.
Se essa nova versão do PSB está de acordo com o misto de
neopatrimonialismo e gerencialismo (que marcou também o longo governo de
FHC) seguido em Pernambuco pelo atual chefe do Executivo estadual, como
foi sugerido pela contratação de uma assessor de Aécio Neves, para dar
um choque de gestão na administração estadual, entende-se.
Mas a revisão vai além, pois trata-se de uma manobra retórica para
aproximação com o PSDB e outros partidos satélites, como o PPS e um
pedaço do PMDB.
A mudança de rumo e de tom significa que a política do PSB e da
família Arraes agora é outra: o mercado, não o povo ou a nação. A nova
política do candidato e governador é “vender” o Brasil a investidores
estrangeiros, através de renúncia fiscal e relaxamento das políticas de
proteção sócio-ambiental.
O que parece conduzir a uma grave contradição com as intenções
programáticas da irmã Marina Silva. Afinal, como conciliar uma política
gerencial e de mercado com o tal desenvolvimento sustentável, de que
tanto fala a ex-senadora do Acre?
Ou ficamos com o discurso “novo” do PSDB e seus aliados, que diz ser o
principal papel do estado criar um clima ótimo para os negócios,
eliminando entraves políticos e sociais (SUDENE, proteção ao
meio-ambiente, direitos trabalhistas etc.), ou ficamos no lenga-lenga da
rede-solidariedade do desenvolvimento justo, , sustentável,equilibrado,
que vai preservar a biodiversidade do Planeta e apoiar a economia
solidária.
Há qualquer coisa de dissonante nesse arranjo. Não se pode ao mesmo
tempo defender uma forma de estimulo às atividades econômicas, apoiada
no fundo público e na desregulamentação do mercado, e proteger a
natureza, as espécies, as comunidades de pequenos produtores de
coletores que habitam as selvas brasileiras.
A não ser que o arranjo – mal engembrado- tenha uma objetivo
meramente eleitoreiro e que aposte na idiotização dos eleitores
brasileiros.(publicado originalmente no blog de jamildo)
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