É razoável imaginar que um diretor de uma grande
empresa pague propinas de R$ 4,1 milhões sem que seu presidente
soubesse? No caso da construtora Brookfield, a confissão do suborno ao
fiscal Luis Alexandre Cardoso Magalhães, preso na semana passada, foi
feita por um diretor. Será o suficiente para condenar também o chefe
maior da empresa, Luiz Ildefonso Simões Lopes? Em tensão máxima, a
construtora alega ser vítima dos fiscais, mas outras empresas preferiram
não aceitar o jogo e denunciaram o esquema; alcance do domínio do fato
pode ser colocado à prova
247 – Há
algumas semanas, o jurista Ives Gandra Martins concedeu uma importante
entrevista à jornalista Mônica Bergamo. Disse que a teoria do "domínio
do fato", usada na Ação Penal 470 para condenar o ex-ministro José
Dirceu, criaria uma onda de insegurança na economia brasileira. Gandra
previu, inclusive, que ela seria usada por juízes e promotores para
condenar empresários, mesmo se não houvesse provas cabais de seu
envolvimento em determinados crimes.
Há, agora, uma oportunidade para
testar o alcance da teoria do domínio do fato. E o alvo seria o
empresário Luiz Ildefonso Simões Lopes, presidente da Brookfield, uma
das maiores construtoras do País, com ativos de R$ 3 bilhões e presença
marcante nas cidades de São Paulo e do Rio de Janeiro, os dois
principais centros econômicos do País.
Já se sabe que a Brookfield destinou
R$ 4,1 milhões à quadrilha dos fiscais da prefeitura de São Paulo,
desbaratada na semana passada (leia mais aqui).
Os pagamentos foram feitos por empresas ligadas à Brookfield ao fiscal
Luis Alexandre Cardoso Magalhães, conhecido como "o louco" da quadrilha.
Magalhães, que aceitou fazer delação premiada, irá trocar informações
por uma redução de sua pena. Diante das provas apresentadas, o diretor
da Brookfield não teve como negar o pagamento de propinas.
Mas é justamente aí que o "domínio do
fato" entra em cena. É razoável imaginar que um diretor de uma grande
empresa pague propinas de R$ 4,1 milhões sem que seu presidente
soubesse? Provavelmente, não. Mas haverá provas diretas do envolvimento
do CEO da Brookfield? É quase certo que não.
Em nota, a empresa se disse vítima da
máfia dos fiscais, como se estivesse sendo extorquida e como se o
pagamento das propinas fosse o único caminho para liberar os
empreendimentos. Mais de 20 projetos incorporados pela Brookfield teriam
sido liberados graças ao pagamento das comissões.
No entanto, nem todas as construtoras
se submeteram ao jogo dos fiscais. Algumas delas chegaram até a
denunciar o caso ao ex-secretário de Finanças de São Paulo, Mauro
Ricardo, que arquivou a reclamação (leia aqui).
Isso mostra que uma empresa não é
obrigada a se submeter ao jogo sujo da corrupção. Por mais que tenha
sido pressionada, não foi coagida. Agiu de livre e espontânea vontade.
Com ações negociadas em bolsa, Brookfield sofre pressões, sim, de seus
investidores para apresentar melhores resultados. Nos últimos doze
meses, suas ações tiveram desempenho bastante inferior ao do Ibovespa.
Será que isso levaria a companhia a buscar resultados mais imediatos?
O ponto concreto é simples: sem corruptores, não haveria espaço para corruptos.
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