Descoberta de esquema de desvio de impostos de
meio bilhão na cúpula da secretaria de Finanças de Gilberto Kassab, na
Prefeitura de São Paulo, atinge politicamente não apenas o ex-prefeito;
então titular Mauro Ricardo foi homem de confiança do ex-prefeito José
Serra e permaneceu no cargo durante gestão do afilhado político dele;
efeitos do achado do "ninho" de corrupção, como era chamado o escritório
dos quatro ex-altos funcionários municipais presos hoje, tem reflexos
diretos na eleição para o governo de São Paulo em 2014 e no apoio do PSD
à reeleição da presidente Dilma
247 – O ex-prefeito Gilberto Kassab foi rápido na resposta:
- Não fui eu quem indicou.
Depois, expediu nota oficial sobre o caso.
"O ex-prefeito de São Paulo deu total autonomia aos secretários de
Estado para montar as suas respectivas equipes e tem certeza que todos
se colocarão à disposição das autoridades", registrou a nota de Kassab à
imprensa, assinada pela assessoria do PSD (abaixo).
Na manhã desta quarta-feira 30, quando estavam sendo presos, em São
Paulo, quatro altos funcionários da Secretaria de Finanças de sua
gestão, Kassab, nitidamente, procurou empurrar as batatas quentes para o
ex-secretário de Finanças Mauro Ricardo, que ele manteve da gestão de
José Serra, seu padrinho político. Entre os presos estão nada menos que o
ex-subsecretário da Receita Municipal, Ronilson Bezerra Rodrigues, o
ex-diretor de Arrecadação do órgão, Eduardo Barcelos, e o ex-diretor de
Cadastro de Imóveis Carlos Augusto Di Lallo Leite do Amara. Além deles,
integrantes da cúpula da Secretaria de Finanças, está o agente de
Fiscalização Luis Alexandre Cardoso de Magalhães.
O então titular da secretaria, Mauro Ricardo, hoje ocupando o mesmo
cargo em Savaldor, na Bahia, também tentou jogar as que caíram, em
brasa, nas mãos dele, para o alto:
- Não tenho qualquer envolvimento com tais denúncias, devolveu.
BOLA ENTRE AS PERNAS - Ainda voando, as batatas
quentes podem recair sobre o colo do ex-prefeito José Serra. Ele teve em
Mauro Ricardo seu homem de confiança, com a chave dos cofres das
finanças municipais, por todos os anos que foi prefeito de São Paulo.
Como se vê agora, porém, não dá para dizer que Mauro Ricardo é um
economista especialmente zeloso com o monitoramento sobre sua equipe
mais próxima de trabalho.
A investigação nascida na Controladoria Geral do Município, criada
pelo prefeito Fernando Haddad – "não estamos promovendo uma devassa na
gestão anterior", disse ele – começou em março. Com o apoio do
Ministério Público, tem documentos que mostram depósitos diretos de
grandes construtoras para a contas dos envolvidos. Com o dinheiro
grosso, eles compraram bens de luxo, como imóveis e carros, em nome de
parentes e amigos. Casas lotéricas estavam entre os investimentos
preferidos no setor de aquisições.
Serra será instado a se pronunciar sobre mais esse escândalo. Quando
confrontado com o anterior, que tem como pivô o ex-diretor de
Edificações Hussain Aref Saab, cujo patrimônio nos últimos anos acumulou
mais de 100 imóveis em seu nome pessoal e no do filho, Serra também
disse que a culpa era da gestão anterior.
Agora, porém, é diferente. Os presos fazem parte do primeiro escalão
da equipe de Mauro Ricardo, seu braço direito quando foi prefeito. A
ponto de recomendá-lo para o trabalho, no mesmo posto, na Secretaria de
Finanças de Salvador, na gestão de ACM Neto.
Nos bastidores políticos da capital baiana, tem-se como certo que a
indicação de Mauro Ricardo para o posto foi feita pelos tucanos
serristas Jutahy Magalhães e Antonio Imbassahy. O certo é que Mauro
Ricardo está lá. Será que contiinua depois que se sabe que , no mínimo,
levou um baile de R$ 500 milhões de seus antigos homens de confiança?
Outro abalo se dá nos planos de Kassab de concorrer ao governo de São
Paulo em 2014. Trata-se do segundo grande escândalo descoberto em sua
gestão, após o caso Aref. Sabe-se que, com Kassab, São Paulo se
verticalizou de maneira extremamente acelerada, numa progressão de
destruição de bairros inteiros em benefício da especulação imobiliária e
da implantação de projetos enormes, de tamanhos nunca vistos numa
cidade acostumada a grande projetos. Os problemas de mobilidade urbana
cresceram proporcionalmente, assim como os índices de poluição
atmosféricas. Ele ainda terá forças para, com sua habilidade política
comprovada, driblar mais esse vexame de sua gestão?
E José Serra, passará incólume? No que muitos analistas acreditam, o
disparo do novo escâdalo também atinge sua imagem pela forte ligação com
o secretário Mauro Ricardo – que, repita-se, já avisou que não tem nada
a ver com isso. Como Kassab.
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