Faz muito tempo que escrevi uma carta, essa maneira agradável e universal de comunicação, que está sendo reprimida pela era digital. Hoje, decidi escrever-lhes esta carta que segue sem envelope e sem correio. Esta carta nunca chegará às suas mãos. Não posso postá-la, porque o seu endereço é inacessível. Mesmo diante disto escrevo-lhes.
Ainda inconformado com suas partidas, quero dizer-lhes que eu, meus irmãos e todos os seus familiares guardamos na lembrança o tempo convivido com vocês. Dentre tantos momentos, estão bem vivas as imagens da celebração de suas Bodas de Ouro. Tudo foi filmado. Vocês aparecem em cada cena deixando um misto de encantamento e saudade. Como seria bom que esse filme fosse verdadeiro até hoje!
Vocês continuam sendo exemplos do viver para todos nós. Tudo inesquecível.
Amanhã, dia 2 de novembro é uma data criada em homenagem às pessoas falecidas. A morte é o cessar definitivo da vida. Ela só existe para os vivos. A morte somos nós preenchidos de vazio. Com ela vem o silêncio. O silêncio dos mortos está em nós. Silêncio capaz de edificar e recriar a vida. Este calar revela nossa frágil condição.
Assim é a vida... Ah, a vida! Planos, sonhos, inquietações. Expectativas que se fazem e se desfazem a cada instante, provando que o mundo gira. As circunstâncias estão sempre mudando o tempo inteiro.
Vida!
Vida tão cheia de inconstância.
Ou será a dor e o prazer de ter quase sessenta e cinco anos ou tantos quantos vierem? Não sei. Entender tudo isso é muito amplo. Talvez o passar dos dias tragam alguma resposta. Só não quero ter a sensação de está transformando minha vida num movimento sem sentido.
Por tudo isso, é oportuno aproveitar o silêncio e repensar a vida.
A vida continua e infeliz é o homem que não sente saudade. Essa estará comigo até o fim da minha vida.
Até algum dia, meus pais.
Seu filho,
Samuel Salgado.
Recife, 1 de novembro de 2013.
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