Agência Brasil (Brasília) – O ex-presidente Luiz Inácio Lula da Silva
aproveitou o evento comemorativo dos dez anos do Bolsa Família para
lembrar que as críticas feitas ao programa foram desconstruídas ao longo
do tempo. Lula disse ver com naturalidade a ocorrência de tantas
dúvidas e questionamentos em um país com um histórico de exclusão social
tão grande quanto o Brasil.
“De todas as críticas, a mais cruel é que o Bolsa Família ia
estimular preguiça, dependência e vagabundagem”, disse Lula. “Mas 70%
das famílias beneficiadas têm [outra] renda fixa. Isso acaba com a
crítica”, argumentou o ex-presidente. Ele relatou outras críticas que o
desenvolvimento do programa desmentiu.
“Um jornal disse que o Bolsa Família forma mendigos. Outro
companheiro, que virou adversário político, dizia que era uma tragédia
social. Outro dizia ser fácil entrar no programa, mas que seria muito
difícil sair dele. Outros o chamavam de enganação, bolsa cabresto, bolsa
ilusão, bolsa eletrodoméstico”, disse o ex-presidente. Para ele, havia
preconceito: “Não admitiam que se comprasse algo que não fosse feijão”.
A tese de que o programa foi recebido com intolerância pelas elites
do país foi repetida em outros trechos do discurso. “Eu sei que incomoda
muita gente os pobres estarem evoluindo. Afinal, eles estão usando o
maiô que só uma parte da sociedade usava, a empregada está usando o
mesmo perfume da patroa, os jardineiros estão atravancando o trânsito ou
ocupando lugar no avião. Eu sei que isso é duro”, ironizou.
Lula lembrou de uma matéria do Fantástico em que
foram visitadas três cidades de três estados para denunciar que pessoas
sem necessidade econômica conseguiram receber o Bolsa Família. “Ou
seja, um erro de cadastro em um programa que atende a quase 14 milhões
de famílias foi tratado por alguns hipócritas como se fosse corrupção ou
fraude, sem o menor respeito”, disse.
Em outro caso, ele recordou que um jornalista disse que a exigência
de frequência escolar das crianças para recebimento do benefício pela
família não teria relevância. “Espero que quem escreveu esteja
escondido, porque não tem coragem de dizer isso hoje”.
O ex-presidente acrescentou que, se tivesse de voltar no tempo, com a
experiência que tem hoje, não mudaria a estratégia que usou antes e
começaria outra vez o governo pelo combate à fome e à desigualdade,
tendo como carro-chefe o Bolsa Família.
“Nenhum outro programa teve tanto impacto para a construção de um
novo Brasil. Eu disse, na época, que começaria pelo necessário, para
fazer o possível e depois o impossível. Essa tarefa foi absolutamente
necessária para construirmos o país que estamos construindo, porque a
maioria da população habitava uma não pátria”.
“O Bolsa Família é um programa vitorioso que, em seu tempo, está
mudando o curso da história de nosso país. Dinheiro publico aplicado em
saúde, educação, renda e família nunca mais pode ser tratado como gasto,
mas sim como investimento”, disse. “Não basta receber alimentos. É
preciso ter geladeira para conservar e fogão para cozinhar. Precisa
também de limpeza na casa”, acrescentou.
Para o ex-presidente, os resultados do Bolsa Família ainda não foram
esgotados. “Vamos deixar bem claro: este é um programa que acaba de
completar dez anos em um país onde a injustiça acaba de completas cinco
séculos. É a porta de entrada para uma era de desenvolvimento com
inclusão social”, explicou.
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