Marina Silva é só amores com os donos da mídia. Ela é tratada com todo o carinho pelos jornalões, revistonas e emissoras de tevê. Quase todo dia é destaque na velha imprensa. Isto talvez explique a defesa apaixonada que a ex-verde fez da atuação da mídia no país durante o programa Roda Viva, exibido pela TV Cultura nesta segunda-feira (21). “Não acho que deva ter controle porque uma das coisas que ajuda a própria democracia é a liberdade de expressão. Acho que a imprensa dá grande contribuição para várias questões, como na minha área [meio ambiente]”, afirmou a provável vice de Eduardo Campos na campanha presidencial de 2014.
Neste clima de amores, os barões da mídia tendem a reforçar ainda mais o
coro para que ela dispute a sucessão pelo PSB – deixando na reserva o
governador de Pernambuco. Mas não é só no debate sobre a regulação
democrática da mídia – que ela maliciosamente chama de “controle” – que
a ex-ministra tem agradado os empresários do setor. A cada dia que
passa, Marina Silva explicita a sua completa cedência às teses
neoliberais e sua fundamentalista adoração ao “deus-mercado”. No
programa Roda Vida, ela voltou a criticar o governo Dilma por ter
abrandado o chamado tripé macroeconômico – dos juros elevados,
austeridade fiscal e libertinagem cambial.
Mas o conservadorismo da ex-verde não se manifesta apenas na economia.
Como ironiza José Carlos Ruy, no sítio Vermelho, no programa da TV
Cultura “houve também o lado folclórico, quando ela tratou de
homossexualismo, casamento gay, pesquisas com células-tronco,
criacionismo... Ela reconheceu que as pessoas devem ter tratamento
igual, mas ‘quando se fala em casamento, evoco o sacramento’. Nesta
condição, ela não aceita o casamento gay, embora o admita como direito
civil. A pérola veio quando falou sobre criacionismo. Não sou
criacionista, disse. E declarou acreditar que Deus criou todas as
coisas, inclusive a grande contribuição dada por Darwin”.
Para José Carlos Ruy, estudioso da história, “Marina Silva é a recente
versão do que há de mais tradicional e conservador na política da
classe dominante brasileira. A história tem exemplos desse tipo de
‘novo’; Jânio Quadros, há mais de cinquenta anos, surgiu como uma
espécie de alternativa aos partidos e aos políticos; ele bateu de
frente com o Congresso Nacional e renunciou melancolicamente sete meses
depois de assumir a Presidência da República. Era em tudo parecido com
Marina Silva. Na política, rejeitava os partidos e acusava o Congresso
Nacional de chantageá-lo (Marina repetiu esse argumento no programa Jô
Soares, dia 15, dizendo que Dilma é chantageada pelo Congresso!). Na
economia, defendia o mesmo velho e fracassado programa conservador:
contenção nos gastos públicos, pagamento de juros, enxugamento da
máquina do Estado”.
“No ocaso da ditadura militar, outra versão ‘jovem’, ‘apolítica’ e
economicamente conservadora surgiu na figura de Fernando Collor. Durou
pouco”, lembra José Carlos Ruy. Isto também ajuda a explicar as juras
de amor entre Marina Silva e os barões da mídia. Nos dois casos
citados, os tais representantes do “novo” tiveram o apoio da chamada
grande imprensa nas suas campanhas presidenciais contra candidatos mais
à esquerda. Marina Silva bajula a mídia; e a mídia sabe, sempre, a
quem bajular!
Altamiro Borges
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