Ontem foi um destes dias que nos envelhecem por anos.
Como a natureza deu-me duas orelhas, passei a tarde dividindo-as entre o julgamento de Lula no Superior Tribunal de Justiça e a sessão da Comissão de Constituição e Justiça da Câmara, na qual finalmente se votou a admissibilidade da PEC da Previdência.
A rigor, nem foi tão difícil dar atenção a ambas, de tão previsíveis e primárias.
No STJ, os votos seguiam-se sem brilho, inteligência ou indagações. Eram um discorrer monocórdio, como quem vai “ticando” itens de uma lista, para cada um dos pontos levanados pela defesa.
Não se examinava, ali, se havia neles razão; a preocupação era como negá-los. “Súmula 7”, “Súmula 7”, “Súmula 7”, repetia-se, para dizer que não se podia discutir as “provas” dos autos, embora sejam o que menos há neles, porquanto não há nenhuma evidência da propriedade, do usufruto ou qualquer elemento que prove que Lula era o dono, de fato ou de direito, do tal triplex, exceto a palavra de um delator Muito menos que tenha vindo deste ou daquele contrato da Petrobras o dinheiro para reformá-lo.
Na outra orelha, a estultice era igual: não se podia “reexaminar contas”, sendo irrelevante que o governo tivesse decretado sigilo sobre os dados do seu projeto previdenciário. A Comissão de Constituição e Justiça não examina senão a constitucionalidade da PEC, diziam, pouco lhe importando se há ou não sentido em miserabilizar pessoas e sacar-lhes a dignidade na velhice ou na doença. Como fez o STJ, não importam os fatos, importa o que se disse sobre eles.
Deputados e juízes, de ambos vinha a impressão de que o essencial era se livrarem logo de algo que já está decidido por eles: Lula é culpado porque é culpado e é preciso enforcar os aposentados porque todas as pessoas “importantes” dizem que é.
Porque a Lava Jato e o mercado são Deus, estão acima de todos e que seus desígnios são sempre bons, justos e inquestionáveis.
Embora esteja à vista cega de todos que seus feitos são maus, injustos e absurdos.
Disse, por isso, que era um dia que me envelhecia por anos, pois a velhice não é o tempo, mas a degradação, a ruína, a erosão do que fomos.
E, ao olhá-las, sentir que é preciso achar forças para que os gafanhotos não possam devorar tão profundamente nossos sonhos que eles não possam, ainda que para os mais jovens, rebrotar.
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