Josias de Souza
O governo de Michel Temer ainda não notou, mas viver em zona rural conflituosa é muito perigoso. A qualquer instante pode-se morrer. Há três meses, Temer mandou para o Diário Oficial portaria que esvaziou a Funai e criou um grupo com poderes para rever demarcações de terras indígenas. Nas pegadas dessa novidade, o presidente entregou ao correligionário Osmar Serraglio o Ministério da Justiça. Simpático ao agronegócio, Serraglio arpessou-se em escolher um lado: ''O que acho é que vamos lá ver onde estão os indígenas, vamos dar boas condições de vida para eles, vamos parar com essa discussão sobre terras. Terra enche a barriga de alguém?''
Nesta segunda-feira, com atraso de um dia, ganhou as manchetes notícia sobre um ataque contra índios da tribo Gamela. A encrenca ocorreu nos fundões do Maranhão. Produziu 13 feridos. Entre eles um índio que teve as mãos decepadas e levou dois tiros. Em nota, a pasta de Serraglio disse que vai averiguar o que houve entre os “pequenos agricultores e supostos indígenas''. Supostos?!?
Um novo texto foi divulgado na sequência pela equipe de Osmar Serraglio. É igualzinho ao primeiro. A única diferença é que o vocábulo “supostos” foi passado na borracha.
Depois que as demarcações de terras indígenas subiram no telhado, entidades do setor crivaram o governo de críticas. Mas Temer defendeu a portaria que lipoaspirou os poderes da Funai. Disse coisas definitivas sem definir muito bem as coisas: ''Houve estudos conducentes à pacificação da questão das terras indígenas com os fazendeiros. Isso tudo está sendo examinado, muito vagarosamente, com muito critério.''
Dias atrás, como uma espécie de abre-alas do ataque aos índios maranhenses, houve uma chacina num assentamento do Mato Grosso. Nela, um grupo de nove sem-terra foi passado nas armas (espingarda calibre 12 e facões). As execuções foram precedidas de tortura. Um dos mortos teve a orelha decepada.
A confusão entre índios, sem-terra e ruralistas não é invenção do gestão Temer. Entretando, se estiver interessado em se tornar parte da solução, convém ao governo desistir da ideia de acender o fósforo para mostrar que não há pólvora no barril.
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