sexta-feira, 5 de maio de 2017

Duque acusa Lula. E, de novo, história inverossímil



POR FERNANDO BRITO  No Tijolaço·

O depoimento de Renato Duque a Sérgio Moro não tem nenhuma lógica senão a de um homem que vê em acusar a única chance de sair da cadeira.

Diz que foi indicado (genericamente) para compor a diretoria da Petrobras, sem especificar por quem ou porque.

Diz que nunca participou do famoso acordo que previa a transferência de valores ao PT, que, segundo ele, era solicitado pelo partido como doação diretamente às empresas. Neste caso, lógico, alguém teria – do lado do partido ou do lado das empresas, de dizer a ele que tinha sido pedido ou que tinha sido dado.

Diz que doar ou não doar não afetava o resultado da licitação. “Não precisava chegar na empresa e dizer que tinha que contribuir, até porque não tinha que contribuir, não era algo obrigatório. Ganhou a licitação, vai levar a licitação”, disse ele.

Ué, então não tinha propina para ganhar licitação?

E os milhões que ele e seu auxiliar, Pedro Barusco, vieram então de simples generosidade das empresas, sem contrapartidas? “Eu nunca pedi”disse, “eu só aceitei”. “Não havia necessidade de pagar”, assegura.

– Se alguém se recusasse a pagar, não havia nenhuma penalidade.

Temos então que as empresas davam porque eram boazinhas e deram 20 milhões de euros espontaneamente a Duque sem nada em troca. Até Sérgio Moro estranhou: “mas as empresas davam em troca de quê?”.

Mas o mais incrível é o fato de que, mais uma vez, a acusação a Lula é na simplória base do “eu tenho certeza de que ele sabia”, apoiada em histórias de que”Lula tinha muito conhecimento sobre a questão das sondas e fez varias perguntas sobre isso”. O detalhe, porém, é que ele diz que todos os encontros se deram depois de ele ter sido demitido da Petrobras, em 2012. O que levaria Lula, se tivesse interesse em “desenrolar” algo neste assunto, a tratar com um ex-diretor.

O último encontro é especialmente inacreditável. Lula, nas próprias palavras de Duque, teria dito que Dilma estava preocupada com boatos de que um ex-diretor tinha contas na Suíça, abastecidas com dinheiro da SBM, uma armadora de navios.

Ora, se sua relação era com Vaccari, porque seria necessário Lula perguntar? Lula iria tratar, quando a Lava Jato já estava em curso, pessoalmente deste assunto com alguém com quem não tinha quase nenhuma intimidade?

Acusar Lula virou a tábua de salvação dos náufragos da Lava Jato. A elas, todos se agarram mas sem conseguir apontar sequer um dado concreto, senão que “teriam se encontrado” com ele e “teriam tratado” disso.

O que, na varado Dr. Sérgio Moro, é “prova suficiente”.

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