Josias de Souza
Eduardo
Cunha fez circular pelos porões de Brasília um aviso: não admite ser
cassado. Admite menos ainda ser enviado para casa antes da deposição de
Dilma Rousseff. Em privado, Cunha diz que Michel Temer e os partidos que
apoiam o seu governo lhe devem gratidão por ter deflagrado o processo
de impeachment. Ignorado, ameaçou reagir. E seu encontro com a
guilhotina foi empurrado para 12 de setembro —uma segunda-feira, dia de
quórum fraco.
Interrogado na última segunda-feira (8)
por ordem do STF, o lobista Júlio Camargo, delator da Lava Jato,
reafirmou que pagou propina de US$ 5 milhões a Eduardo Cunha em 2011.
“Para justificar a cobrança dos valores, ele disse que tinha uma bancada
de mais de duzentos deputados para sustentar”, contou o delator, sem se
intimidar com a presença de Cunha na sala.
Dois dias depois desse depoimento, o
novo presidente da Câmara, Rodrigo Maia, anunciou a data da votação do
pedido de cassação de Eduardo Cunha. Subvertendo as expectativas dos que
esperavam por um desfecho em agosto, Maia deu nova sobrevida ao
antecessor —um franco-atirador que o lobista Júlio Camargo diz ter
munição para disparar pelo menos duas centenas de balas perdidas.
Empenhado em evitar confusões que
coloquem em risco o afastamento de Dilma, o Planalto celebra o silêncio
de Cunha. Na Câmara, o mutismo da maioria evidencia o poder de fogo do
personagem. Nesse cenário, basta que um deputado agache no plenário para
ser considerado um político de grande altivez
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