Ministro da Saúde Ricardo Barros
Bernardo Melo Franco - Folha de S.Paulo
Michel
Temer atrasou o relógio da história em quatro décadas ao nomear um
ministério sem nenhuma mulher. Agora o titular da Saúde, Ricardo Barros,
mostrou que está em sintonia com o chefe. Ele declarou que os homens vão menos ao médico porque "trabalham mais".
A
afirmação é desmentida por dados oficiais. Segundo o IBGE, as mulheres
trabalham quatro horas a mais por semana, somando o tempo que dedicam às
atividades domésticas. O ministro nem precisava saber disso para evitar
o palpite infeliz. Bastava ler a pesquisa que ele mesmo divulgou. Nela,
menos de 3% dos homens apontam o horário de funcionamento das unidades
de saúde como razão para não frequentá-las.
Desde
que virou ministro da Saúde, há três meses, o engenheiro Barros se
destaca pelas declarações desastradas. Em maio, ele usou um argumento
religioso para defender o uso da fosfoetanolamina,
a "pílula do câncer", sem a realização de testes clínicos. "Se ela não
tem efetividade, mas as pessoas acreditam que tem, a fé move montanhas",
disse.
Depois
o ministro defendeu que o governo inclua as igrejas nas discussões
sobre o aborto. Padres e pastores têm o direito de pregar o que
quiserem, mas não deveriam se meter nas políticas públicas de saúde.
A
incontinência verbal evidencia o despreparo de Barros, mas não chega a
ser o pior traço de sua gestão. O que mais preocupa é a forma como ele
defende abertamente os interesses das seguradoras, setor que forneceu o
maior doador de sua campanha a deputado em 2014.
O
ministro já afirmou que não cabe ao governo fiscalizar a qualidade dos
planos privados. Em outra ocasião, criticou o fato de milhões de
pacientes recorrerem à Justiça para receber atendimento médico.
Agora Barros quer criar um tipo de plano de saúde "popular",
com cobertura menor do que o mínimo exigido hoje pela ANS. Não é
preciso ter diploma de medicina para saber quem vai lucrar com a ideia.
Nenhum comentário:
Postar um comentário