segunda-feira, 18 de maio de 2015

PSDB prova do próprio veneno


Ricardo Melo – Folha de S.Paulo
"Pegaram um criminoso, réu confesso, preso por abuso de menores, para me acusar sem nenhuma prova. Coisa de bandido."
Não, a afirmação não é de nenhum suspeito na operação da moda, a Lava Jato. O desabafo é do governador Beto Richa, tucano de carteirinha, num vídeo publicado no Facebook. Richa, como se sabe, ganhou notoriedade nacional –e internacional– como o carrasco de professores do Paraná. Nada como um dia depois do outro. Eis que um auditor da Receita paranaense, Luiz Antônio de Souza, fez o que o doleiro Alberto Youssef pratica período sim, período não. Entrega uma delação premiada em troca de redução de penas. O conteúdo fica ao gosto de um certo público qualificado.
Para quem não sabe, Souza é acusado de participar de um esquema em que empresários pagavam propina em troca da redução ou até da anulação de calotes tributários. Puxando o novelo, surgiu a denúncia de que o grupo de auditores criminosos deveria molhar a mão da campanha de Beto Richa com R$ 2 milhões surrupiados na propinagem.O conteúdo da delação tem tanto valor quanto as infindáveis "revelações" de Youssef. Ou seja, é tudo verdade? É tudo mentira? Que parte é verdade e que parte é mentira? Silêncio ensurdecedor no PSDB.
Assim como Souza, Youssef é um criminoso contumaz. O primeiro chega a abusar de menores; o segundo prefere negociar com adultos. "Incorrigível", como declarou o Ministério Público depois que o doleiro voltou a delinquir após atuar como delator no caso Banestado.
Mesmo assim, Youssef recebeu uma nova chance. Virou testemunha-chave na Lava Jato. Mais. Ganhou direito a delações editadas. Algumas de suas denúncias estampam manchetes; outras, que envolvem gente de fora do governo atual, têm que ser procuradas com lupa nas redes sociais.
A história fica mais grave ao sermos informados de que a Operação Zelotes, criada para investigar roubalheira grossa na Receita Federal, corre o risco de absolver 90% dos suspeitos. O caso envolve processos que somam mais de R$ 19 bilhões em impostos sonegados, deixando a Lava Jato no chinelo.
Com a palavra Frederico Paiva, procurador responsável pelo processo: "Como as medidas investigatórias não estão sendo deferidas, as pessoas também não estão preocupadas. Está todo mundo em casa". O procurador refere-se a pedidos de busca e apreensão, escutas telefônicas etc. sistematicamente negados pela 10º Vara Federal. Nada como fazer parte da sobrenomecracia. Já o juiz Sérgio Moro só falta anunciar prisões pelo Twitter.

No Brasil, a Justiça é cega apenas para alguns. Para outros, depende de colírios financeiros.

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