POR EDUARDO GUIMARÃES
O ano vai terminando e, com ele, a mais bizarra quarentena
pós-eleitoral da redemocratização. De 26 de outubro até a semana que
finda, foram cerca de 40 dias de ameaças explícitas de impeachment de
Dilma Rousseff, feitas não só à luz do sol, mas em rede nacional de
rádio e tevê, nas colunas, reportagens e editoriais dos grandes jornais.
Na verdade, as ameaças começaram antes mesmo de ser proclamado o
resultado das urnas. Em 26 de outubro, na Globo News, enquanto o Brasil
ainda votava, Merval Pereira, Gerson Camarotti e Renata Lo Prete
conversavam abertamente sobre impedimento de uma presidente que estava
para ser reeleita com vantagem parecida com a que Barack Obama derrotou
Mitt Romney em 2012 (51,01% do democrata contra 47,16% do republicano).
Se nos EUA 5 milhões de votos de vantagem constituem vitória clara,
no Brasil os 3,5 milhões de vantagem que reelegeram Dilma vêm sendo
tratados como nada, de forma que os 54,5 milhões de votos que a
presidente teve chegam a parecer menos do que os 51 milhões de Aécio
Neves.
Em 4 de novembro, Aécio Neves é recebido com festa no Congresso, como
se tivesse vencido a eleição presidencial. A partir dali, mídia e
oposição começam uma campanha que pareceu acreditar que seria possível
derrubar a presidente da república.
No Congresso e na mídia, a primeira aposta dos golpistas foi na
ultrapassagem do teto de gastos previsto na Lei de Diretrizes
Orçamentárias, com proposta de pedir o impeachment de Dilma por violação
da Lei de Responsabilidade Fiscal. O PSDB chegou a alugar ônibus e
contratar manifestantes para empastelar a Câmara dos Deputados e, assim,
obrigar os parlamentares e rejeitarem o que a mídia chamou de "manobra
fiscal", ou seja, aumento do limite de gastos do governo neste ano.
A oposição conseguiu prorrogar por algumas semanas a aprovação da
elevação do teto de despesas, mas, nesta semana, finalmente o processo
foi concluído e, assim, os devaneios golpistas sobre "impeachment por
crime de responsabilidade" foram enterrados.
Em meados do mês passado, porém, começou a se conformar um outro
devaneio golpista envolvendo, agora, as contas de campanha de Dilma
Rousseff. À diferença de outros períodos pós eleitorais, armou-se uma
enorme celeuma sobre os gastos de Dilma. Essa celeuma baseou-se em nada.
Tudo começou quando, de forma absolutamente inexplicável, as duas
prestações de contas da campanha de Dilma – a dos gastos da campanha
reeleitoral da presidente e a dos gastos do PT com a campanha da
presidente – caíram nas mãos do notório inimigo do PT no Supremo, Gilmar
Mendes. No mesmo dia, na mesma hora, dois "sorteios" fizeram aquelas
contas caírem nas mãos do ministro ligado ao PSDB.
A partir dali, armou-se uma celeuma que fez a prestação de contas de
campanha de Dilma ir parar nos telejornais e nas primeiras páginas dos
jornais. Do Jornal Nacional à Folha de São Paulo, parecia haver alguma
coisa de muito errada com aquelas contas.
Para que se tenha uma ideia da celeuma em torno das contas da
petista, nos primeiros 40 dias após as eleições de 2010 o jornal Folha
de São Paulo publicou apenas uma matéria
sobre o assunto. Concessionárias de serviços públicos fizeram doações
para várias campanhas e, entre elas, a de Dilma e isso mereceu uma
matéria discreta daquele jornal.
Em 2014, por razão que ainda não se sabe qual é Gilmar Mendes,
relator das contas de Dilma, requisitou técnicos do TSE, da Receita, do
Tribunal de Contas da União, enfim, um pequeno exército para fazer o que
ele mesmo qualificou como "devassa" nas contas eleitorais da
presidente.
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