Heitor Scalambrini Costa
Professor da Universidade Federal de Pernambuco
Um
velho ditado referente ao poder diz que, quando não se quer fazer alguma coisa,
cria-se uma comissão.
Sinto
dizer, mas é o caso do embutimento da fiação elétrica em Recife. Tal decisão,
que aparentemente todos querem que aconteça, é, na prática e não
explicitamente, boicotada. Hoje, quem provoca o caos da fiação aérea, vista por toda cidade do Recife
e em outras metrópoles, são os fios e cabos que distribuem a energia, as linhas
telefônicas, os canais de televisão a cabo, a Internet e o que mais houver.
Sinal
evidente de que nada vai acontecer de mais relevante nesse terreno ocorreu após
a aprovação do Projeto de Lei nº 99/2013, pela Câmara de Vereadores, dispondo
sobre a substituição e instalação subterrânea de toda fiação aérea na cidade do
Recife. Ao sancionar, tornando a Lei nº 17.984, um mês depois de aprovada, em
13/01/2014, o prefeito vetou o artigo 2º que fixava o prazo de dois anos para
cumprimento da medida.
Na
oportunidade, em nota oficial, a Secretaria de Infraestrutura e Serviços
Urbanos informou que, por meio de uma Portaria, foi criado um grupo de trabalho
para estruturar a proposta de “enterrar” a rede de cabos aéreos, com prazo de 4
meses para a finalização da proposta.
Concluído
o prazo em 13 de maio último, nem uma satisfação à sociedade foi dada. Silêncio
total a um problema gravíssimo para aqueles que habitam as grandes cidades, em
particular Recife, e que aguardam medidas concretas do poder público.
Mesmo
que tardiamente, a iniciativa dos vereadores foi uma medida de interesse
público almejada pela população recifense, que reclamava e pressionava os órgãos
responsáveis diante do absurdo das frequentes mortes por eletrocutamento ao
longo dos últimos anos. Do ponto de vista da segurança, sem dúvida a fiação
elétrica embutida contribuirá drasticamente na redução, ou mesmo na supressão,
de tragédias fatais; e também permitirá um aumento da confiabilidade do sistema
elétrico, que recorrentemente interrompe o fornecimento de energia
(“apaguinhos”) aos usuários.
Com
relação ao numero de óbitos por choques elétricos, segundo a Agencia de
Regulação de Pernambuco (Arpe), 81 pessoas perderam a vida por choque elétrico causados
pela rede de fiação de 2011 até maio de 2014. O que torna Pernambuco um dos estados onde
mais se morre por eletrocutamento.
Além do descaso e da falta de
transparência, a Prefeitura do Recife age em caminho oposto, permitindo a
instalação de novas redes aéreas no município, conforme denúncias mostradas
pela mídia.
Outro fato que chama a atenção
são os factóides criados com relação à iluminação pública na cidade, também de
grande preocupação da população. Manchetes de jornais, que reproduzem os
release da comunicação do poder executivo municipal, apresentam a cidade
adotando uma iluminação mais eficiente, aquela proporcionada por lâmpadas tipo
led (diodos emissores de luz). Tecnologia inovadora cujas principais
características é o elevado tempo de vida, mais de 80.000 horas, e um consumo
de energia muito econômico, em relação às lâmpadas convencionais.
Lembrando que Recife dispõe
de mais de 120.000 pontos de iluminação pública (aproximadamente 70.000 com
lâmpadas de vapor de mercúrio, podendo causar graves danos ao meio ambiente e às
pessoas, por conter o mercúrio, que é um metal cancerígeno). Portanto, o que
propagandeia a Prefeitura é insignificante do ponto de vista dos impactos que
100 ou 200 luminárias com led proporcionarão à cidade. Sem contar que não
existe um planejamento estratégico para a substituição gradativa das lâmpadas
existentes por luminárias com leds.
De promessas, a população
recifense já está saturada. Lembrando ainda que o próprio chefe do executivo
municipal, na época candidato, prometeu durante a campanha eleitoral reduzir a
Contribuição para o Custeio da Iluminação Pública (CIP), cujo valor cobrado
depende do consumo. Passado 16 meses desde a posse do atual prefeito, não se
falou mais a respeito.
Será que o embutimento da
fiação vai trilhar o caminho das promessas não cumpridas, das medidas apenas
anunciadas e jamais executadas? Ou de uma
lei que “não pegou”?
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