Por Michael Zaidan
Fui
surpreendido, ontem, por um pedido de entrevista de um dos veículos do
sistema JC de comunicação: a repórter queria uma avaliação sobre a
decisão do senador e ex-governador do estado, filiado ao PMDB, de não
mais concorrer à reeleição ao senado e sua indicação do nome de
opocisionista Raul Jungmam (PPS) para integrar a chapa majoritária do
PSB ao governo do estado de Pernambuco! Surpresa? – Nem tanto.
Mas
se um marciano pousasse em Pernambuco e tentasse entender a política
brasileira, teria com certeza muita dificuldade. Como é possível que um
político que foi, em passado recente, um duro crítico da família do
atual governador indique um oposicionista de carteirinha para ser
candidato à vice-governador na chapa do principal alvo de críticas,
durante todos esses anos?
Pois é. Aí, nós temos de dar razão ao
ex-governador (DEM) Gustavo Krause, que uma vez disse que a política
entre nós é como bombril, serve para tudo, tem mil-e-uma utilidades,
inclusive de a um inveterado crítico ser ao mesmo tempo parceiro
político do criticado, sem muitas explicações. Mas há outras explicações
que iluminam esse caso:
1) a trajetória política do próprio
Jungmam. Este cidadão é um personagem a procura de um autor, que o leve a
sério. Já foi arraisista, na época que tinha um aparelho instalado no
edifício São Carlos, chamado “Avança Recife”, tido como linha auxiliar
do governo do PSB. Depois, entrou no Partido Comunista Brasileiro,
compondo a ala mais radical do partido. Finalmente, tornou-se “um quadro
a disposição” do PSDB, quando tornou-se assessor dos governadores
cearenses do PSDB. Foi parar no ministério do planejamento, no IBAMA e,
finalmente, no Ministério da Reforma Agrária. Quando saiu do governo de
FHC, continuou “à disposição” do PSDB: procurou filiar-se ao PMDB para
combater a candidatura de Itamar Franco, não o aceitaram. Procurou o
próprio PSDB, mas também não obteve guarida por lá. Veio cair no PPS de
Roberto Freire. Conclusão: um quadro-laranja, ora à disposição do PSDB
nacional, ora à disposição do PMDB local, comandado personalisticamente
pelo ex-governador de Pernambuco. A sua indicação por este político para
compor a chapa majoritária às eleições do estado se elucida pelo efeito
Bombril e pela sua inesgotável servidão ao efeito laranja, no caso
específico, laranja do PMDB jarbista (anti-lulista), de oposição.
2)
Mas a repórter também quis saber as razões da desistência do
ex-governador em se recandidatar para concorrer a mais um mandato pelo
Senado Federal. Essa resposta é mais fácil: a coligação que o elegeu
governador e senador por Pernambuco, acabou-se, desfêz-se como uma bolha
de sabão. O risco de mais uma derrota no curriculo vitorioso do senador
é muito grande. No ambiente de absoluta e total cooptação e aliciamento
dos partidos “bombril” e “laranja”, ser oposição é tarefa muito
difícil, senão inglória. Só permanece como oposição, quem não tem como
aderir à situação. Com as honrosas exceções de praxe: os partidos
ideológicos, da esquerda, que não são partidos de mera competição
eleitoral cujo fim é a vitória, a qualquer preço.
3) O
anti-lulismo é a única coisa que une esses partidos e políticos. Todos
querem a mesma coisa, mas vão deixar a briga pelo botim, para depois da
sonhada derrota de Dilma Roussef.
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