A
propina paga pelo cartel de empresas acusado de fraudar licitações do
Metrô e da CPTM pode chegar a R$ 197 milhões, segundo depoimento
sigiloso da testemunha-chave da investigação, o ex-diretor da
multinacional Siemens Everton Rheinheimer.
A Folha
obteve a íntegra do depoimento que o executivo deu à Polícia Federal, em
que ele aponta três secretários do governo Geraldo Alckmin (PSDB) como
destinatários de propina e detalha percentuais pagos pelo cartel.
Segundo ele, a
Siemens e seus parceiros pagaram 9% para fornecer trens à linha 5 do
Metrô em 2000, um contrato de R$ 1,57 bilhão, em valores atualizados. Se
o percentual estiver correto, a propina paga só nesse caso teria
alcançado R$ 141 milhões.
O executivo
disse à PF que informou esses percentuais na época ao então deputado
estadual Rodrigo Garcia (DEM), presidente da Comissão de Transportes da
Assembleia Legislativa do Estado, e concluiu que ele, "por lógica,
também recebia valores oriundos da propina paga".
Garcia, hoje secretário do Desenvolvimento Econômico em São Paulo, nega ter mantido a conversa narrada por Rheinheimer. O
executivo depôs no ano passado após um acordo com o Ministério Público
Federal, em que se comprometeu a colaborar com as investigações e
revelar o que sabe sobre a prática de corrupção por fornecedores do
Metrô e da CPTM. Em troca, ele poderá sair do processo sem punição.
Segundo o
executivo da Siemens, o encontro com Garcia foi agendado pelo consultor
Arthur Teixeira, suspeito de intermediar o pagamento de propina das
empresas para políticos do PSDB e funcionários do Metrô e da CPTM.
JOSÉ ANÍBAL
O delator
disse à PF que procurou Teixeira porque um assessor da CPTM, Ricardo
Ota, lhe avisou que o consultor repassava aos políticos só 5% do valor
da propina e ficava com o resto do dinheiro.
O ex-diretor
da Siemens diz que, com a eleição de Garcia para a presidência da
Assembleia, em 2005, o presidente da CPTM, Mário Bandeira, avisou que
"deveria passar a tratar com José Aníbal, deputado estadual que ficou
responsável pelos contatos políticos e com os pagamentos de propinas
pela empresa".
Aníbal, que
nega ter praticado irregularidades, era vereador da cidade de São Paulo
nessa época e diz que não conhecia Bandeira e Garcia. Rheinheimer
disse à PF que Aníbal nunca o atendeu, mas mandava que procurasse um
auxiliar, Silvio Ranciaro, tucano que foi vice-prefeito de Mairiporã.
Aníbal diz que a alegação é mentirosa. (Folha de S.Paulo - Flávio Ferreira e Mario Cesar Carvalho)
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